Dia Nacional de Mobilização Contra as Reforma da Previdência e Trabalhista [31/03]

“As reformas da Previdência e trabalhista de Michel Temer continuam sendo denunciadas em atos e mobilizações pelo Brasil. As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo convocam a população para novos atos no dia 31 que se realizarão simultaneamente em todo o país. A exemplo do que aconteceu no dia 15 de março, quando um milhão de pessoas protestaram nas ruas contra a reforma da Previdência, as centrais de trabalhadores também sinalizam paralisação nacional ou greve geral para abril.

Vamos denunciar, pressionar e barrar os projetos do Executivo que tramitam no Congresso Nacional e que podem ser votados em abril. São eles a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, que trata da reforma da Previdência, e o Projeto de Lei 6787/2016 referente à reforma trabalhista.”

Via Frente Brasil Popular SC

Repressão Pós 2013: Novos perseguidos políticos 53 anos depois do golpe [31/03]

No desaniversário do golpe civil-midiático-militar de 1964, que abriu um período de barbárie e sofrimento para o povo brasileiro, somos obrigados a olhar para o passado e também para o presente. Existe uma perigosa escalada repressiva em curso, que articula a violenta ação policial e paramilitar; a vigilância privada e estatal; e também os braços longos da injusta Lei, que só se voltam contra o povo pobre, a população negra e todas as pessoas que ousam lutar por seus direitos. Lembramos alguns exemplos:

– A prisão de Rafael Braga, jovem negro acusado de portar material explosivo pelo simples porte de produtos de limpeza no dia 20/06/2013 e preso há anos;

– A aprovação da Lei Antiterrorismo em 2014, que pode ser usada para enquadrar movimentos sociais em penas duríssimas;

– Os inúmeros casos de infiltração policial em movimentos sociais, como o recém-revelado caso do militar Willian Botelho, que usava o nome “Balta Nunes” no aplicativo Tinder para se aproximar de ativistas em São Paulo;

– Militantes de Joinville/SC que respondem a dezenas de processos promovidos pelos empresários de transporte da Gidion e Transtusa, por sua participação nas lutas contra a tarifa em 2013 e 2014;

– O pedido de prisão da Prefeitura de Florianópolis contra dirigentes sindicais do Sintrasem, que organizou uma vitoriosa greve em 2017 mesmo com as decisões judiciais pela ilegalidade do movimento;

– O andamento dos julgamentos contra os 6 militantes do Bloco de Lutas de Porto Alegre, realizado com policiais infiltrados, depoimentos da grande mídia e acusação de crimes como “associação criminosa” nas lutas de 2013.

Convidamos os movimentos sociais e entidades populares para conversar sobre esse novo momento e pensar coletivamente em estratégias para que a repressão não cale nosso justo grito por dignidade e por direitos, inspirados na memória de resistência popular contra a ditadura que permanece viva em nosso cotidiano.

PROGRAMAÇÃO:

17h30: Encontro em frente ao TICEN – Caminhada da memória e performance artística
18h30: Vídeo-debate no Instituto Arco-íris
21h: Atividades culturais na Travessa Ratcliff

PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA!
MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA!
LUTAR NÃO É CRIME!
RODEAR DE SOLIDARIEDADE AS E OS QUE LUTAM!

Relato de agressão da Policia Militar de Santa Catarina aos Foliões em Santo Antônio de Lisboa

Santo Antônio de Lisboa, madrugada de terça de Carnaval. Por volta das 2 e 30 da manhã acabava a noite de folia após um bonito desfile de 25 anos do bloco Baiacu de Alguém, que no seu samba enredo não se omitiu e narrou alguns dos problemas e lutas de Desterro: a falta de transporte público integrado, o plano diretor, a moeda verde, a luta pela Ponta do Coral e pela Ponta do Sambaqui.

Todos já estavam indo para casa, as últimas barraquinhas fechavam. Parado na rua de paralelepípedos onde antes só havia festa e folia vi a Policia Militar começar a se movimentar e fechar a rua, formando um bloco. Eram uns 15 policiais, uns 3 da cavalaria e o restante a pé. De uma hora para outra eles começaram a avançar pela rua, cassetetes em punho, marchando naquela formação típica de legião romana, tão comum de se ver em manifestações populares.

Eles não pediam licença, empurravam quem não saísse das ruas sem que as pessoas fizessem uma mínimo esboço de violência. Quando chegaram perto da igreja vi alguns Policiais agredirem um rapaz com cacetadas. Foi então que alguém puxou o coro do “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Policia Militar”, que foi ecoado por muitos na praça. Um Policial foi até uma menina que gritava as palavras de ordem e começaram uma discussão. Um tempo depois senti os olhos lacrimejando, pois começaram a borrifar gás de pimenta na praça, como se estivessem dedetizando o lugar.

Na volta para o carro escutei um relato de um rapaz que contou que jogaram spray de pimenta próximo aos banheiros químicos com gente dentro. Minha amiga, moradora do bairro me contou que todo ano é a mesma coisa. Que a Polícia atua desta forma para “encerrar” a festa, e que foi embora dali logo que percebeu a movimentação dos “homens da lei”.

Foram cenas lamentáveis e desnecessárias de brutalidade e estupidez do Estado. Qual a finalidade desta brutalidade? Se os organizadores sabem que isso acontece todos os anos, por que não se manifestam? O clima de insegurança em outros anos justifica tamanha agressividade?

Em temerários tempos de “Ordem e Progresso” os blocos de rua do Carnaval, essa festa anárquica por excelência seguem sendo um incomodo para ordem vigente. Mesmo em tempos em que uma única marca de cerveja compra a cidade por alguns dias, em tempos de cercadinhos em espaços públicos, de pulseirinhas VIPs, de peixadas e feijoadas de gente besta e esnobe.

Como diria Leminski: “Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade”.

Fucknópolis recebe a segunda edição da ‘XØKE: Mostra independente de arte de guerra’

A segunda edição da XØKE :: Mostra independente de arte de guerra acontece entre 7 e 11 de dezembro de 2016, em Florianópolis. Serão 5 dias de programação com mais de 40 ações, entre interferências urbanas – ações artísticas, exibição de vídeos-performances e intervenções impressas.

Promovida pelo ETC, a XØKE é um espaço para corpos, gestos, gritos, imagens, impulsos, repúdios, transições, transmutações, provocações e o que servir no combate contra o ‘cistema’ e suas paredes, grades, correntes e forças impostas.

A edição de 2016 conta com cerca de 33 ações performáticas, além de duas oficinas: “Auto-gestão do glamour”, com Kali Turrer e Raíssa Éris Grimm e “ Cool for the summer” com TSM, de Campo Grande (MS). São mais de 100 artistas envolvidos dispostos a XØKAR na cidade.

A mostra tem parceria com os espaços da Adehonline (associação que trabalha em prol da efetivação dos Direitos Humanos, com enfoque na cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Fundação Cultural Badesc, Micro Centro Cultural Casa Vermelha, um espaço cultural independente localizado na R. Conselheiro Mafra e a CASA DE NOCA.

PROGRAMAÇÃO:

= QUARTA DIA 7/12 =
11h – “A Porta” (1h)
com Duo Im Risco [Fucknópolis, SC]
Rua Deodoro, centro

12h – “Transonoridade” (1h)
com Blua Discórdia [Fucknópolis, SC]
Largo da Alfândega, centro

13h30 – “qu4tr0 minut0s” (2h)
com Marco Antonio Oliveira [Funcknópolis, SC]
Saída: Largo da Alfândega, centro

16h – OFICINA “Auto-gestão do glamour” (2h)
com Kali Turrer e Raíssa Éris Grimm [Fucknópolis, SC]
Casa Vermelha (R. Conselheiro Mafra, 590 – centro)

17h30 – “RINHA” (1h)
com Entropia Experiências Artísticas [Fucknópolis, SC]
R. Felipe Schmidt, centro

18h30 – “ATO de XOKE – Cortejo de Abertura” (1h)
TICEN, centro

19h30 – “Quê um pedaço?” (20m)
com Pablo Assi [Fucknópolis, SC]
Parque da Luz, centro

20h – “Sarau Profano” (2h)
com Coletyva [Fucknópolis, SC]
Parque da Luz, centro

= QUINTA DIA 8/12 =
10h – “Infectacidade” (40m)
com Giro coletivo [Fucknópolis, SC]
Trajeto: Mercado Público à Praça XV, centro

11h – “Mão na cumbuca” (20m)
com Cia 2 Luva [Fucknópolis, SC]
Largo da Alfândega, centro

12h – “Experimento 5: ‘Me traziam a lembrança daqui, de…’” (3h) com Luanah Cruz [São Paulo, SP]
Saída: Largo da Catedral, centro

13h – “Ruína” (1h)
com Coletyva [Fucknópolis, SC]
Rua Deodoro c/ Felipe Schmidt, centro

14h – “A caminhada da travesti bolivariana” (2h)
com Betinho Chaves [Fucknópolis, SC]
Saída: Igreja Universal
(R. Mauro Ramos, 1310 – centro)

16h – “Blocoxinha” (40m)
com Estúdio de Arte Rebelde [Fucknópolis, SC]
Saída: Miramar, centro

17h – “Projeto DESIDENTIDADES | Mulher” (1h)
com Daniella Barsoumian [São Paulo, SP]
Rua Felipe Schmidt, centro

18h – “Vênus #1” (30m) com Prata Leliza [Curitiba, PR]
Travessa Ratcliff, centro

20h – “Projeção VÍDEOS de XOKE (1h)
Fundação BADESC (R. Visconde de Ouro Preto, 216 – centro)
. Antropollofagia (13’15’’) – Coletivo Mapas e Hipertextos [Fucknópolis/SC]
. corpo-porto (5’29) – tensoativo [Macapá/AP]
. estudo 1: azougue – contaminações sobre o mar (6’27’’) – Cristiana Nogueira [Macapá/AP]
. Putrefatio#1 Digestão (10’12’’) – Janaina Carrer – São Paulo/SP
. Sobre o paraíso inabitável ser o próprio corpo (3’) – Lucas Bernardi, Everton Lampe e Dimi Carmolinga [Fucknópolis/SC]
. Vídeodança CASULO (4’16’’) – Letícia Rodrigues [Campinas/SP]

= SEXTA DIA 9 =
9h – OFICINA: “Cool for the summer” (4h)
com TSM – Thiago Silva Moraes [Campo Grande, MS]
ADEH (Rua Trajano, 168 – 3º andar, centro)

10h30 – “Amor Marginal” (10m)
com Falácias Coletivo de Teatro [Blumenau, SC]
Largo da Alfândega, centro

11h – “THE FORM” (1h)
com Marcio Vasconcelos aka EX-PUNK-ME [São Paulo, SP]
Mercado Público, centro

12h – “Lacrimogênio e Orgasmo” (30m)
com Diogo Dos Experimental Jam [Fucknópolis,SC]
TICEN

12h30 – “Quanto vale? ou Está bom assim?” (1h)
com Jão Nogueira [Blumenau, SC]
Rua Felipe Schmidt, centro

14h – “P.D.: Brasileirx” (1h30)
com Dani Barsoumian [São Paulo, SP]
Terminal Cidade de Florianópolis, centro

15h – “~~ o que está escondido ~~” (1h)
com Caio Jade e Helen Ábramo [São Paulo, SP/Joinville, SC]
Largo da Alfândega, centro

16h – “o que te diz meu corpo?” (1h)
com Coletivo Casa [Vitória, ES]
Largo da Catedral, centro

22h – FESTA “La Xocata – Cerimônia de causamento da XOKE” CASA DE NOCA (Av. Av. das Rendeiras, 1176 – Lagoa da Conceição)
+ “Perereca Brasil” com Thaiz Cantasini e DJ Elis Mira [Ouro Preto, MG]
+ “ESBARRA: um evento com objetivos comunitários, institucionais ou promocionais” com Mapas e hipertextos [Fucknópolis, SC]
+ “Experimento 11: “Tentativa de Pinup: Raspadinha de Caramelo” com Luanah Cruz [São Paulo, SP]
+ “quem tem medo de masculinidade?” com Caio Jota [São Paulo, SP]
+ Vídeos de XOKE
. ÂNSIA (1’37’’) – Dolores Donovan [Recife/PE]
. Assolação (7’06) – Anatomistas Clandestinas [Rio de Janeiro/RJ]
. INTENTO 6098 – MANIFESTO FRÁGIL do projeto Corpo Intruso (8’) – Estela Lapponi [São Paulo/SP]
. POPOXEXECA (3’21’’) – Ruth Steyer e Ioanna Pappou [Cidade do México/MX]
. projeto DESIDENTIDADES | Para Durar (8’) – Dani Barsoumian [São Paulo/SP]
. Tiamat (2’36’’) – Marcela Antunes [Rio de Janeiro/RJ]

= SÁBADO DIA 10 =
9h – OFICINA: “Cool for the summer” (4h)
com TSM [Campo Grande, MS]
ADEH (Rua Trajano, 168 – 3º andar, centro)

11h- “Indomável o vermelho que te monstra” (30m)
com Marília Madalena Outra Fulô [Santa Maria, RS]
Largo da Catedral, centro

12h – “ATIRA-SE TOMATES BONS EM ARTISTAS PODRES” (1h) com Marcio Vasconcelos aka EX-PUNK-ME [São Paulo, SP]
Feira Viva a Cidade (R. João Pinto, centro)

13h – “Galãn Delon” (1h30)
com Mahdra Aru Fierro [Fucknópolis, SC]
Travessa Ratcliff, centro

14h – “Síria” (3m)
com Falácias Coletivo de Teatro [Blumenau, SC]
Largo da Alfândega, centro

16h30 – “Mapas da dor” (50m)
com Raíssa Éris Grimm [Fucknópolis, SC]
ADEH (Rua Trajano, 168 – 3º andar, centro)

18h – Batalha das Mina – Florianópolis
Terminal Cidade de Florianópolis, centro

20h – “Não há lugar como a nossa casa” (1h)
com Carla Abraão [Fucknópolis, SC]
Terminal Cidade de Florianópolis, centro

20h30 – “Qual o sabor do seu vermelho?” (20m)
com Oitava-Feira [Fucknópolis,SC]
Terminal Cidade de Florianópolis, centro

21h – “Cine Meio-Fio: Vídeos de XOKE” (1h)
Largo da Alfândega, centro
. AKELARRE MITOTL Marrano desCULOnial (12’22’’) – Lígia Marina & Ese Chamuko; Ruth Steyer & Ioanna Pappou [México]
. Cuidado, Frágil (7’) – Cecília Magalhães [Rio de Janeiro/RJ]
. LEITURA DO MANIFESTO ANTI-INCLUSÃO (3’) – Estela Lapponi [São Paulo/SP]
. Na Brasa de Pindorama (9’44’’) – Betinho Chaves [Fucknópolis/SC]
. Por Favor, Não Tocar (1’34) – Tales Frey [Portugal]
. Tupinikuirs (17’18’’) – Jeffe Grochovs [Curitiba/PR]
. Zuleikando (12’27’’) – Estela Lapponi [São Paulo/SP]

= DOMINGO DIA 11 =
11h – “Cool for the summer – floripa edition” (1h15) com TSM [Campo Grande, MS]
Praia da Joaquina

15h – “PiC NiC Amor & Guerra” (5h) na Ponta do Coral
+ Pururuca Sistemática do Som
+ Oficina de Tecido com Mariana de los Santos
+ Amor Marginal – Falácias Coletivo de Teatro
+ Aula Sobre o Amor com Fátima Costa de Lima
+ Trio Arroz de Festa
+ JAM – Coletivo Contato Improvisação da Ilha

INTERVENÇÕES IMPRESSAS
agudo (Cristiana Nogueira)
Assim na terra como no céu (ane soares)
DiLindu (Jesus Van)
Indomável – o vermelho que te monstra (A- mar)
Somos parte da paisagem (Camila Petersen e Fábio Yudi Yokomizo)

 

Fonte: http://obaratodefloripa.com.br/floripa-recebe-a-segunda-edicao-da-xoke-mostra-independente-de-arte-de-guerra/

5 Escolas ocupadas em Santa Catarina!

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Fonte: https://www.facebook.com/bandeiranegra/

 

OCUPAÇÕES DE ESCOLAS COMEÇAM A TOMAR SANTA CATARINA!

Na segunda-feira, aconteceu no IFC Rio do Sul a primeira ocupação estudantil contra a PEC 241 e contra a Reforma do Ensino Médio, fortalecendo o movimento nacional que já ocupa quase mil escolas.

Agora, já temos pelo menos 5 escolas ocupadas em SC:
IFC Rio do Sul
IFC Araquari
IFSC Araranguá
IFSC Chapecó
IFC Abelardo Luz

Hoje pela manhã, estudantes do Colégio de Aplicação da UFSC Florianópolis tomaram as ruas:https://www.facebook.com/events/329843174045023/.

Em Joinville, mobilização das escolas também esteve nas ruas hoje pela manhã contra os ataques:
https://www.facebook.com/events/217382528674506/

Hoje, às 19h30, em São Francisco do Sul, os estudantes vão às ruas contra o fechamento do período noturno na Escola Educação Básica Felipe Schmidt:
https://www.facebook.com/events/559939207528991/

Além disso, o Governo Estadual anunciou o fechamento de turmas do Ensino Médio em dezenas de escolas pelo Estado e já existem mobilizações em escolas de Joinville e São Francisco do Sul:
https://www.facebook.com/gruposindicaldebase/

Só cresce a luta contra a PEC 241, contra a Deforma do Ensino Médio, contra a Lei da Mordaça, POR NENHUM DIREITO A MENOS!

PELA FORÇA DAS MARCHAS, OCUPAÇÕES E GREVES!

Pacifistas e Radicais – um casal infernal

Trecho do livro “Aos nossos amigos e amigas”:

PACIFISTAS E RADICAIS – UM CASAL INFERNAL

Quarenta anos de contrarrevolução triunfante no Ocidente nos infligiram duas fraquezas irmãs, ambas igualmente nefastas, mas que juntas formam um dispositivo impiedoso: o pacifismo e o radicalismo.

O pacifismo engana e engana a si mesmo ao fazer da discussão pública e da assembleia o modelo acabado da política. É em virtude disso que um movimento como o das praças se vê incapaz de se tornar outra coisa que não um insuperável ponto de partida. Para compreender o que acontece com a política não há outra coisa a fazer senão desviar até a Grécia, mas desta vez até a antiga. Afinal de contas, foi ela que inventou a política. É algo que os pacifistas detestam lembrar, mas os gregos antigos inventaram a política de início como forma de continuar a guerra por outros meios. A prática da assembleia na escala da cidade provém diretamente da pratica da assembleia dos guerreiros. A igualdade no uso da palavra decorre da igualdade diante da morte. A democracia ateniense é uma democracia hoplita. Ali, só se é cidadão porque se é soldado; daí a exclusão das mulheres e dos escravos. Numa cultura tão violentamente agonística como a cultura grega clássica, o debate vê a si mesmo como um momento de confronto guerreiro, agora entre cidadãos, na esfera da palavra, com as armas da persuasão. Alias, “agon” significa tanto “assembleia” quanto “concurso”. O cidadão grego completo é aquele que é vitorioso pelas armas como pelo discurso.

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Sobretudo, os gregos antigos conceberam, no mesmo gesto, a democracia de assembleia e a guerra como carnificina organizada, e uma como garantia da outra. Aliás, a invenção da primeira só lhes é creditada na condição de ocultar seu elo com a invenção desse tipo tão excepcional de massacre que foi a guerra de falange – essa forma de guerra em linha que substitui a habilidade, a bravura, a proeza, a força singular, toda a manifestação de talento, pela disciplina pura e simples, a submissão absoluta de cada um ao todo. Quando os persas se viram diante dessa forma tão eficaz de conduzir a guerra, mas que reduz a vida do soldado da falange a nada, eles a consideraram, e com justiça, perfeitamente bárbara; da mesma maneira que fizeram, na sequência, tantos outros inimigos que ainda seriam esmagados pelos exércitos ocidentais. O camponês ateniense prestes a se fazer trucidar na primeira linha da falange de maneira heroica diante de seus entes queridos é a outra face do cidadão ativo tomando parte na Bulé. Os braços sem vida dos cadáveres estirados nos campos de batalha da Antiguidade são a contrapartida necessária dos braços que se levantam para intervir nas deliberações da assembleia. Esse modelo grego de guerra está ancorado tão poderosamente no imaginário ocidental que quase se esquece que, no exato momento em que os hoplitas atribuíam o triunfo àquela falange que ao invés de ceder aceita um número máximo de mortos no choque decisivo contra outra, os chineses inventavam uma arte da guerra que consistia justamente em reduzir as perdas, em fugir tanto quanto possível do confronto, em procurar “ganhar a batalha antes da batalha” – mesmo que isso significasse exterminar o exército vencido, uma vez obtida a vitória. A equação “guerra=confronto armado = carnificina” nasce na Grécia antiga e chega até o século XX: no fundo, é a definição ocidental aberrante de guerra há dois mil e quinhentos anos. Que denominem “guerra irregular”, “guerra psicológica”, ou “guerrilha” o que em outros lugares é a norma da guerra, eis mais um aspecto dessa aberração.

O pacifista sincero, aquele que não está procurando apenas racionalizar sua própria covardia, comete a façanha de se enganar duas vezes sobre a natureza do fenômeno que pretende combater. Não só a guerra não é redutível ao confronto armado nem ao massacre, como ela é a própria matriz da política de assembleia que ele defende. “Um guerreiro de verdade”, dizia Sun Tzu, “não é belicoso; um lutador de verdade não é violento; um vencedor evita o combate”. Dois conflitos mundiais e uma aterradora luta planetária contra o “terrorismo” nos ensinaram que é em nome da paz que se desenrolam as mais sangrentas campanhas de extermínio. No fundo, a rejeição da guerra só exprime uma recusa infantil ou senil em admitir a existência da alteridade. A guerra não é a matança, mas sim a lógica que regula o contato de potências heterogêneas. Ela é travada por todos os lados, sob inúmeras formas, e na maioria das vezes por meios pacíficos. Se há uma multiplicidade de mundos, se há uma irredutível pluralidade de formas de vida, então a guerra é a lei de coexistência nesta terra. E nada permite pressagiar o resultado do encontro de contrários: eles não habitam mundos separados. Se nós não somos indivíduos unificados dotados de uma identidade definitiva como a polícia dos papéis sociais desejava, mas sim o lugar de um jogo conflitual de forças cujas configurações sucessivas desenham equilíbrios provisórios, temos que reconhecer que a guerra está em nós – a guerra santa, dizia René Daumal. A paz não é possível nem é desejável. O conflito é a própria matéria daquilo que se é. Resta adquirir uma arte de como conduzir isso, que é uma arte de viver situacionalmente, e que supõe delicadeza e mobilidade existencial mais do que vontade de esmagar aquilo que não somos.

O pacifismo atesta, assim, ou uma profunda burrice ou uma completa má-fé. Mesmo o nosso sistema imunológico se baseia na distinção entre amigo e inimigo, sem a qual morreríamos de câncer ou de qualquer outra doença autoimune. Aliás, nós morremos de câncer e de doenças autoimunes. A recusa tática do confronto é ela mesma uma astúcia de guerra. Compreendemos muito bem, por exemplo, por que é que a Comuna de Oaxaca se autoproclamou pacífica de imediato. Não se tratava de recusar a guerra, mas de recusar ser esmagado num confronto militar com o Estado mexicano e seus escudeiros. Como explicavam os camaradas do Cairo: “Não devemos confundir a tática que empregamos quando cantamos a ‘não violência’ com uma fetichização da não violência.” De resto, quanta falsificação histórica é necessária para encontrar antepassados apresentáveis para o pacifismo! É como esse pobre Thoreau: foi só acabar de morrer que o transformaram num teórico de A desobediência civil, amputando o título de seu texto Resistência ao governo civil. Não tinha ele, no entanto, escrito com todas as letras em seu Um apelo em prol do capitão John Brown: “Acredito que finalmente os rifles e os revólveres Sharp foram utilizados por uma causa nobre. As ferramentas estavam nas mãos daqueles que podiam usá-las. A mesma cólera que outrora varreu o templo, irá varrê-lo de novo. A questão não é saber qual será a arma, mas o espírito com que ela é utilizada.” Mas o mais hilariante em matéria de genealogia falaciosa é, certamente, a transformação de Nelson Mandela, o fundador da organização de luta armada do ANC [Congresso Nacional Africano], num ícone mundial da paz. Ele próprio conta: “disse que o tempo da resistência passiva tinha chegado ao fim, que a não violência era uma estratégia inútil e não poderia jamais derrubar um regime de minoria branca decidido a manter-se no poder a qualquer custo. Ao fim e ao cabo, disse eu, a violência era a única arma que destruiria o apartheid e devíamos estar preparados para, num futuro próximo, usar essa arma. A multidão ficou excitada; os jovens, em especial, batiam palmas e gritavam cheios de entusiasmo. Estavam prontos a fazer o que eu dissesse, ali e naquele momento. Nessa altura, comecei a cantar uma canção de libertação, cuja letra dizia ‘Eis os inimigos, vamos pegar nas nossas armas e atacá-los’. Cantei essa canção e a multidão acompanhou-me, e quando terminou a canção apontei para a polícia e disse: ‘Ei-los, os nossos inimigos!’”

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áfrica do sul

Décadas de pacificação das massas e de massificação dos medos fizeram do pacifismo a consciência política espontânea do cidadão. Cabe a cada movimento, agora, lidar com este estado de coisas desolador. Na praça Catalunya em 2011, por exemplo, vimos pacifistas entregando manifestantes vestidos de preto à polícia, assim como em Gênova em 2001 vimos alguns “Black Blocs” serem linchados. Em resposta, os meios revolucionários segregaram, como anticorpos, a figura do radical – aquele que procura o oposto do cidadão em todas as questões. Ao banimento moral da violência num, o outro responde com sua apologia puramente ideológica. Enquanto o pacifista procura se abster do curso do mundo, permanecendo bom e não cometendo nada de mau, o radical se abstém de qualquer participação no “existente” através de pequenas ilegalidades enfeitadas por “tomadas de posição” intransigentes. Ambos aspiram à pureza, um pela ação violenta, o outro abstendo-se dela. Cada um é o pesadelo do outro. Não se sabe se essas duas figuras subsistiriam por muito tempo se uma não tivesse a outra em seu interior. Como se o radical vivesse apenas para estremecer o pacifista que há nele próprio e vice-versa. Não é por acaso que a Bíblia das lutas cidadãs norte-americanas desde os anos 1970 se intitule Rules for radicals, de Saul Alinsky. É que os pacifistas e os radicais estão unidos numa mesma recusa do mundo. Eles usufruem de sua exterioridade em qualquer situação. Ela deixa eles chapados, faz com que sintam uma sensação de excelência indescritível. Preferem viver como extraterrestres – tal é o conforto autorizado, por algum tempo ainda, pela vida das metrópoles, seu biótopo privilegiado.

Desde a derrota dos anos 1970, a questão moral da radicalidade substituiu a questão estratégica da revolução de maneira imperceptível. O que significa que a revolução sofreu o destino de todas as coisas nestes decênios: foi privatizada. Transformou-se numa oportunidade de valorização pessoal, em que a radicalidade é o critério de avaliação. Os gestos “revolucionários” já não são apreciados a partir da situação em que se inscrevem, dos possíveis que aí abrem ou fecham. Em vez disso, extrai-se de cada um deles uma forma. Tal sabotagem, feita em tal momento, de tal maneira, por tal razão, torna-se apenas uma sabotagem. E a sabotagem, enquanto prática carimbada como revolucionária, vai sabiamente inscrever seu lugar numa escala, em que o coquetel molotov se situa acima do lançamento de pedras, mas abaixo do tiro nas pernas, que por sua vez não vale o mesmo que uma bomba. O drama é que nenhuma forma de ação é revolucionária em si mesma: a sabotagem foi praticada tanto por reformistas como por nazis. O grau de “violência” de um movimento não indica em nada sua determinação revolucionária. Não se mede a “radicalidade” de uma manifestação por meio do número de vitrines quebradas. Ou, se se mede, então há que se deixar o critério da “radicalidade” àqueles cuja preocupação é medir os fenômenos políticos, colocando-os em sua esquelética escala moral.

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Quem quer que comece a frequentar os meios radicais se admira de início com o hiato que reina entre seus discursos e suas práticas, entre suas ambições e seu isolamento. Eles parecem como que condenados a uma espécie de autodestruição permanente. Não demora muito tempo para perceber que eles não estão ocupados em construir uma força revolucionária real, mas em alimentar uma corrida de radicalidade que satisfaz a si própria – e que se desenrola indiferentemente no terreno da ação direta, do feminismo ou da ecologia. O pequeno terror que aí reina e que torna o mundo todo tão duro não é o do partido bolchevique. É antes o da moda, esse terror que ninguém exerce pessoalmente, mas que se aplica a todos. Teme-se, nesses meios, deixar de ser radical, como do outro lado se teme deixar de estar na moda, de ser cool ou hipster. Precisa-se de pouco para manchar uma reputação. Evita-se ir à raiz das coisas em proveito de um consumo superficial de teorias, de manifestações e de relações. A competição feroz entre grupos, como também entre si, determina uma implosão periódica. Há sempre carne fresca, jovem e iludida para compensar a partida dos esgotados, dos traumatizados, dos enojados, dos esvaziados. Uma vertigem assalta a posteriori aquele que desertou desses círculos: como é que pudemos nos submeter a uma pressão tão mutiladora por questões tão enigmáticas? É o gênero de vertigem que deve tomar qualquer ex-executivo esgotado que virou padeiro ao se lembrar de sua vida pregressa. O isolamento desses meios é estrutural: entre eles e o mundo, a radicalidade foi interposta como padrão; já não percebem mais os fenômenos, apenas sua medida. Num determinado ponto de autofagia, vão competir por radicalidade através da crítica do próprio meio; o que em nada fere sua estrutura. “Parece-nos que o que realmente suprime a liberdade”, escrevia Malatesta, “e torna impossível a iniciativa, é o isolamento que produz a impotência”.1 Desse modo, que uma fração de anarquistas se autoproclame “niilista” é de todo lógico: o niilismo é a impotência de acreditar naquilo em que no entanto se acredita – no caso, na revolução. Donde não há niilistas, há apenas impotentes.

Ao se definir como produtor de ações e de discursos radicais, o radical acabou por forjar uma ideia puramente quantitativa da revolução – como uma espécie de crise de superprodução de atos de revolta individual. “Não percamos de vista”, escrevia Émile Henry, “que a revolução será a resultante de todas essas revoltas particulares”. A história está aí para desmentir essa tese: seja a revolução francesa, russa ou tunisiana, todas as vezes a revolução é a resultante do choque entre a situação geral e um ato particular – a invasão de uma prisão, uma derrota militar, o suicídio de um vendedor ambulante de fruta -, e não a soma aritmética de atos de revolta separados. Essa definição absurda de revolução está provocando seus danos previsíveis: esgotamo-nos num ativismo que não se enraíza em nada, entregamo-nos a um culto mortífero da performance, no qual se trata de atualizar a todo o momento, aqui e agora, a identidade radical – seja nas manifestações, no amor ou no discurso. Isso dura um tempo – o tempo de burnout [exaustão], de depressão ou de repressão. Sem que ninguém tenha mudado nada.

Se uma acumulação de gestos não chega a construir uma estratégia, é porque gestos não existem em absoluto. Um gesto é revolucionário não por seu conteúdo próprio, mas pelo encadeamento de efeitos que engendra. Não é a intenção dos autores, mas sim a situação que determina o sentido de um ato. Sun Tzu dizia que “é preciso exigir a vitória à situação”. Todas as situações são compósitas, atravessadas por linhas de força, por tensões, por conflitos explícitos ou latentes. Assumir a guerra que está aqui, agir estrategicamente pressupõe que se parta de uma abertura à situação, da compreensão de sua interioridade, do domínio das relações de força que a configuram, das polaridades que a trabalham. É pelo sentido que adquire no contato com o mundo que uma ação é ou não revolucionária. Atirar uma pedra nunca é apenas “atirar uma pedra”. É algo que pode congelar uma situação ou desencadear uma intifada. A ideia de que se poderia “radicalizar” uma luta pela importação de toda a tralha de práticas e discursos considerados radicais configura uma política de um extraterrestre. Um movimento só vive pela série de deslocamentos que opera ao longo do tempo. Ele é a todo o momento, portanto, certa distância entre o seu estado e o seu potencial. Se ele para de se deslocar, se ele abandona seu potencial por realizar, ele morre. O gesto decisivo é aquele que se encontra um passo à frente do estado do movimento e que, rompendo com o status quo, abre o acesso a seu próprio potencial. Esse gesto pode ser o de ocupar, de esmagar, de atacar, ou apenas o gesto de falar com verdade; é o estado do movimento que decide. É revolucionário aquilo que efetivamente causa uma revolução. Se isso é algo que não pode ser determinado antes dos fatos, certa sensibilidade às situações, junto a algum conhecimento histórico, ajuda muito a intuir.

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Deixemos a preocupação com a radicalidade aos depressivos, aos jovenzinhos2 e aos perdedores. A verdadeira questão, para os revolucionários, é fazer crescer as potências vivas das quais participam, de cuidar dos devires-revolucionários com o propósito de chegar enfim a uma situação revolucionária. Todos aqueles que se deleitam ao opor de maneira dogmática os “radicais” aos “cidadãos”, os “revoltados em ação” à população passiva, criam barreiras a tais devires. Nesse ponto, eles antecipam o trabalho da polícia. Atualmente, é preciso considerar o tato como a virtude revolucionária primordial, e não a radicalidade abstrata; e por “tato” entendemos aqui a arte de cuidar de devires-revolucionários.

Entre os milagres da manifestação no Vale de Susa, é preciso incluir o fato de ela ter arrancado um bom número de radicais da identidade que eles tão penosamente tinham forjado. Ela os fez voltar à terra. Ao retomar o contato com uma situação real, eles conseguiram deixar para trás boa parte de seu escafandro ideológico, atraindo, claro, o ressentimento inesgotável daqueles que permaneceram confinados nessa radicalidade intersideral na qual mal se consegue respirar. Isso certamente se deve à arte especial que essa luta soube desenvolver para evitar ser capturada na imagem que o poder lhe atribuía para melhor delimitá-la – seja como um movimento ecológico de cidadãos legalistas ou como uma vanguarda de violência armada. Alternando manifestações em família com ataques ao canteiro de obras do TAV, recorrendo tanto à sabotagem quanto aos prefeitos do vale, associando anarquistas e vovozinhas católicas, eis uma luta que ao menos isto tem de revolucionário, de ter sabido desativar o par infernal de pacifismo e radicalismo. “Viver de maneira política”, resumia um dândi Stalinista antes de morrer, “é agir em vez de ser agido, é fazer política em vez de ser feito e refeito por ela. É conduzir um combate, uma série de combates, fazer uma guerra, sua própria guerra com objetivos de guerra, com perspectivas próximas e longínquas, uma estratégia, uma tática”.

1Errico Malatesta, Escritos revolucionários. Trad. bras. de Plinio Augusto Coêlho. São Paulo: Hedra, 2015

2No original, jeunes-filles, literalmente, “raparigas”. No livro de autoria de Tiqqun, La théorie de la Jeune-Fille (Paris: Mille et une Nuits, 2001), a rapariga em questão é uma alusão à mulher-mercadoria, objeto de consumo, que vive na aflição de não ser comprada, encarnando a própria reificação. [N.E.]