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Não olhe para a lagoa
A batalha pela cidade
Santa criptografia, batman!
O Mar1sc0tron é um coletivo anarquista que promove uma Cultura de Segurança ANTI-CAPITALISTA. As reflexões abaixo surgem desse viés e são um convite para repensarmos o que estamos fazendo como “movimento” por segurança digital.
Tem uma frase comum que rola pelo mundo tech que diz: “a criptografia é baseada em matemática e amparada pelas leis da física, logo, ela irá nos proteger de todo o mal”.
Antes fosse! Vejamos então quem está dizendo isso, o que significa essa afirmação e o como esse tipo de salvação se relaciona de fato com a nossa vida.
No livro “Cypherpunks: liberdade e o futuro da Internet”, Julian Assange lança a sua própria versão:
O universo acredita na criptografia.
É mais fácil criptografar informações do que descriptografá‐las.
Micah Lee, figurinha também influente no “movimento” criptográfico, escreve uma postagem intitulada com essas exatas palavras e afirma:
Como as leis da física, a criptografia também está escrita com a matemática. (…) É tão impossível quebrar a criptografia quanto viajar acima da velocidade da luz.
No pdf de uma aula do prof. Gunnells, da Universidade de Massachusetts, sobre matemática da criptografia, lemos o seguinte:
A implementação RSA de criptografia de chave pública é baseada no seguinte fato empiricamente observado (escrito aqui como se talhado em pedra):
Multiplicar dois números inteiros é fácil, mas encontrar um fator não-trivial de um inteiro é difícil.
Em outras palavras, a multiplicação de inteiros é, na prática, uma “função unidirecional”. Se o número for grande, é essencialmente impossível de fatorá-lo.
Empresas por toda parte estão usando criptografia e atestam sua competência com frases como [link]:
O programa ### empodera Investidores Individuais com ferramentas para monitorar seus investimentos e mitigar seus riscos, exatamente como faria um profissional.
A Criptografia de ### é 100% baseada na matemática.
Inclusive pessoas comuns enchem a boca para usar esse argumento (?) nos seus fóruns preferidos:
A ### é amparada por criptografia, por fornecimento e posse comprovável, pelas leis da física e por uma rede de computadores realizando 35 quintilhões de operações criptográficas por segundo.
Como disse o clássico artigo da Wired, Crypto Rebels, lá de 1993, sobre os hackers-índigo que vieram para salvar o mundo: “Isso é criptografia com atitude!”
Cadê?! Por que a gente ainda não tem isso aí? Ah, a gente já tem? Tá por tudo? Mas, mas, mas…
Dá pra dizer que tudo começa lá atrás, quando o papai noel ainda existia: hippies fracassados, financiados pelos militares gringos, ganharam computadores de natal. Horas intermináveis na frente do monitor somado a fast foods de alto valor nutricional devem ter queimado alguns resistores no cérebro da galera: aldeia global, ciber-utopia, você pode ser qualquer coisa, adeus exército, vou subir minha consciência na nuvem, os governos estão com os dias contados.
A NSA olhou aquilo e disse: vai willy, a liberdade de vocês é tudo o que a nossa democracia (militar, consumista, indivíduos-procurando-maximizar-suas-próprias-vantagens) precisa. Toma aqui mais uns pilas.
E pouco tempo depois, entediados com a guerra fria que nunca acabava e sem ter a menor noção de que capitalismo, estado-nação e democracia são gêmeos univitelinos, “cripto-anarquistas” surgem na cena.
Segundo a wikipedia, “cripto-anarquismo (ou cripto-anarquia) é uma forma de anarquia alcançada através da tecnologia de computadores. Cripto-anarquistas usam software de criptografia para obter confidencialidade e segurança durante o envio e recebimento de informação em redes de computadores, para proteger sua privacidade, sua liberdade política e sua liberdade econômica.”
Calma aí. Já morei em lugares que não pegava rádio AM; sinal de celular nem pensar! E os caras tão falando de garantir minha liberdade política e econômica através da internet?
Aham, é isso mesmo.
E dá pra instalar na América Latina? Na África? Bora fazer isso acontecer!
Por que não? Já era pra tá funcionando. Deixa eu ver uma coisa aqui no sistema…
Ah, blz. Eu espero na linha.
Aí entra uma voz sintética feminina, doce e convidativa, recitando as palavras de Assange enquanto a gente espera:
Notamos que seria possível utilizar essa estranha propriedade para criar as leis de um novo mundo.
Ela será nossa única esperança contra o domínio total.
Eu diria que estamos vendo uma revolução em andamento. Dessa vez, é a burguesia que vai ser suplantada, e entrarão os tecnocratas. Alguém disse uma vez: os valores da classe dominante são os valores dominantes. E nós aqui, sustentado o discurso dessa galera…
Papo sério, então. Pra gente não cair nesse delírio de que criptografia vai fazer coisas que ela não faz, vou tentar responder a duas perguntas importantes sobre o assunto:
1) Pra que inventaram criptografia?
Podemos descrever “criptografia como a arte e a ciência de esconder (através de processo criptográfico) dados sensíveis” [link]. Ou qualquer informação. Ou seja, basicamente é evitar que terceiros conheçam o conteúdo de uma comunicação. Essa é uma propriedade chamada confidencialidade.
Entretanto, na criptografia moderna, outras propriedades apareceram com a comunicação digital. Dependendo do que você (tecnica e politicamente) deseja para um protocolo criptográfico, podemos ter integridade, autenticidade, não-repúdio, negação plausível, segredo futuro, disponibilidade do sistema, etc.
Além disso, tem mais propriedades que podem ser desejadas numa comunicação: sincronicidade, assincronicidade, conversa em grupo, autodestruição das mensagens, anonimato, canais para difusão (broadcast), federatividade, centralidade, decentralidade, etc. etc. etc. Tem um texto técnico em inglês bem bom que descreve Os Sete Desafios da Comunicação Digital Segura.
O que está em questão em tudo isso é a comunicação. Muita coisa na vida depende de comunicação. Mas muita coisa não. Dependendo do jeito como certo grupo de pessoas está organizado, a comunicação tem funções diferentes inclusive. Num modelo hierarquizado, é crucial que as ordens de cima sejam recebidas e executadas em baixo. As partes em comunicação estão fortemente ligadas e seus papeis são bem definidos, e em geral são especializados. A eficiência é um valor tão importante quanto a obediência, a competição,o mérito.
Num modelo social horizontal, os papeis se interpõe entre si, há certa redundância e interdependência. Para colaborar, a comunicação é usada para informar situações, combinar e recombinar acordos, estabelecer alianças. É preciso tempo, boa vontade e métodos de convívio. A descentralização costuma ser desejável também.
No mundo real, nas nossas diferentes atividade cotidianas, esses dois modelos se misturam, se influenciam, e também há silêncio.
O que isso tem a ver com criptografia? Você não precisa de criptografia para plantar uma semente, pegar um carro emprestado, imprimir um zine. Não precisa de criptografia para andar até o mercado, nadar na praia com as amizades, amamentar uma criança.
Então, meia dúzia de homem branco de países ricos e democráticos tão mostrando o caminho para um mundo melhor?
Eles deviam mostrar pra galera do Afeganistão como a criptografia pode proteger seus casamentos dos drones assassinos gringos. Ou pra galera na África, pra proteger do trabalho semi-escravo de mineração de terras raras necessárias para fabricar computadores. Ou pra salvar certas tradições tribais, para devolver terras aos indígenas, para libertar mulheres da prostituição forçada, para dar vida ao solo, para as pessoas conseguirem se ouvir e se entender.
Se olharmos para o que está acontecendo no mundo, a comunicação digital criptografada está servindo pra quê? Para quem? Será que é a falta de comunicação digital (telefonia, jornal, internet, criptografia) que impede o mundo de caminhar melhor?
Onde as pessoas comuns, suas famílias e amizades, seus afazeres diários, seus trabalhos e encontros, seus lazeres e sonos, entram nessa conversa? Faz sentido misturar vida ordinária e tecnologia numa mesma conversa?
Estou fazendo seriamente essas perguntas e espero que você também as faça. Por mais difícil que pareça, tente ir fundo.
Bom, agora já sabemos/lembramos que criptografia tem algumas utilidades e beneficia pessoas em situações específicas. Vejamos como ela é construída e como a galera dá um jeito nela.
2) O que define a força da criptografia?
A força de uma tecnologia de criptografia depende de três fatores técnicos. Ou, colocado de outra maneira, há três lugares principais onde ela pode falhar. Os tecnocratas, além de obrigar todo mundo a entrar na sua dança, passam metade do dia pagando hackers para tornar a criptografia robusta, a outra metade pagando hackers para quebrá-la, e outra metade ainda arengando a importância de botar computador intermediando tudo.
Ela é feita, então, de:
- Algoritmo: é a famosa matemática (as fórmulas, os postulados, etc.). Segundo consta na bíblia cypherpunk-libertariana, é ela que vai amparar solidamente o futuro glorioso da internet (e da vida na Terra!).
- Software: é a implementação da imperturbável matemática numa linguagem que o computador possa entender e usar. Porém, podemos dividir essa parte em outras três quando a criptografia é usada para comunicação:
– a implementação do algoritmo criptográfico em si (com suas dezenas de escolhas, como está brevemente descrito na seção “pra quê inventaram”, algumas delas políticas!);
– a comunicação entre cliente* e servidor
– a comunicação entre pessoa e cliente - Senha: é a chave que fecha e abre o “cadeado” da criptografia.
* A título de explicação, cliente é o software que interage com o usuário, como uma página web, o thunderbird, o banco online, todos os apps; servidor é o software que processa os pedidos do usuário e envia para o software-cliente.
Chamei esses três fatores de técnicos porque eles envolvem uma conversa maquinal: com fórmulas (algoritmo), com as máquinas (software) e entre máquinas (senha). Porém, no mundo real, onde pessoas reais comem, acariciam e sonham, acontecem coisas incrivelmente humanas que transformam criptografia em jornal de gaiola:
– as pessoas enviam sua chave privada achando que é a chave pública
– as pessoas usam senhas fracas e repetem ela em várias contas
– tem gente com computador e celular velho, com software ultrapassado, pelo de gato na ventuinha, rede elétrica instável, maresia corroendo circuitos, etc.
– as pessoas encaminham sua mensagem originalmente criptografada sem criptografia
– o grosso de nossa comunicação criptografada tá toda armazenada em servidores centralizados (signal, FB, email-GPG, wire, etc.). Segundo criptógrafos, nos próximos 15 anos há alguma chance dela ser quebrada com:
– computação quântica poderá revelar os conteúdos das msg criptografadas (ainda falta, mas as pessoas da academia já tão se mexendo para evitar que isso aconteça)
– as pessoas geralmente não sabem o que realmente uma ferramenta oferece em termos de segurança. É o caso da Bitcoin, que é criptografada mas não é anônima (já pensou que todas as transações da blockchain podem ser rastreadas até suas origens? Você comprou BTC de uma corretora, pagou imposto, deu seu CPF pro cadastro? Pois é… E enquanto houverem governos, criptomoedas lhes serão muito úteis, e não a sua ruína como dizem por aí.)
Naquela postagem do Micah Lee, que citei no início, ele diz:
A criptografia funciona. A não ser que: sua chave (senha) for roubada ou vigiada, e que a matemática (criada por pessoas) funcione como deveria (!!) e que não contenha nenhuma falha (!!@$#$).
(O que está entre parênteses na citação foi adição minha.)
Além de tudo isso, há um tipo de ataque que explora uma brecha de segurança tão grande quanto a própria humanidade: a engenharia social.
Não vou me aprofundar nesse tema, mas só dizer que a engenharia social, além de não ter quase nada de engenharia, costuma ser o meio mais simples e barato de contornar um sistema de segurança. Sim, boas senhas, bons algoritmos e bons softwares constroem uma fechadura bastante robusta. Porém, sabendo disso, um ladrão vai olhar as janelas, as dobradiças, vai conversar com o vizinho, vai fingir ser teu amigo, vai te vender uma Alexa ou bisbilhotar TODOS os seus emails, documentos, lista de contatos, trajetos cotidianos, etc.
Outra forma de contornar a criptografia, muito mais difícil e custosa, é através de “ataques laterais”. São ataques bizarros, mas acho que vale mencionar:
– ataques de negação de serviço podem atrapalhar toda a conversa cliente-servidor
– congelamento da memória RAM para extração de chave
– vazamento de informações (chaves ou msg) no próprio processador (uma vulnerabilidade chamada spectre)
– extração de chave pelo padrão sonoro de processamento (link)
– inserir, secretamente via software, uma chave de custódia junto com as chaves públicas corretas dos destinatários (essa é bem barata e fácil de fazer!!)
– e mais um monte de experiências em andamento que ainda não conheço
A matemática é foda? A física é feita de leis invioláveis? Beleza. Isso é muito bom e para o campo que a criptografia se propõe proteger, é melhor estar criptografado do que não estar. A questão é ter pé no chão, afinal todo dia sai notícia de vulnerabilidades digitais. Todos os dias! Ela não vai salvar o mundo (pelo menos, o nosso parece que não).
Depois de tudo isso que foi dito (e de você ter duvidado de tudo), temos que nos perguntar: a criptografia protege o quê?
Ela pode proteger uma comunicação digital.
Sim, é claro que é melhor que toda comunicação digital seja criptografada. Aí vai parecer um pouco mais com uma conversa de pessoas para pessoa, onde a gente sabe (mais ou menos) o que tá acontecendo.
Mas é bom lembrar que os metadados tão por aí, soltinhos da silva. As empresas que fornecem serviços de massa, como google e facebook sabem tudo o que a gente fala, sente e pensa (e o governo atrás delas também!), com ou sem criptografia. A burocracia dos Estados nos mantém numa rédea curta. As telefônicas sabem com quem a gente conversa e onde a gente anda. As próprias pessoas dão com a língua nos dentes em troca de um babalú.
Pensando num cenário geopolítico global, parece que mesmo com todo esse “avanço” de segurança:
- O capitalismo continua firme, forte e avançando
- As grandes empresas de tecnologia não se sentem nenhum pouco ameaçadas. Pelo contrário, adoram criptografia!! (estranho, não?)
- Os governos seguem investindo nos projetos de código aberto de segurança digital (ãnh?!)
- A gente segue comprando tudo o que precisa pra viver
- A polícia preditiva está a mil
- As cidades tão cada vez mais espertas
- A desigualdade social continua aumentando
- Os idosos estão sendo jogados no lixo
- Etc, etc, etc (a amazônia tb não ganhou com isso? poxa… quando sair a versão 2.0 a gente dá um jeito)
Esse texto é pra gente se mexer e lembrar que política é um troço confuso, obscuro, cheio de incertezas. Ela não é uma máquina, nem um computador. Esse é o campo no qual a gente escolheu agir! Que tal redescobrirmos nossa radicalidade e pararmos de engolir tudo que é bit-crypto-glitchy que aparece por aí?
FUTURE-SE: mais um ataque a educação!
Allan Kenji
O Ministério da Educação vai anunciar na próxima semana seu mais recente arsenal de ataques contra as universidades públicas – que está sendo chamado “Programa Future-se”. Pelas informações que já circulam à respeito, o tema central da redefinição da “autonomia universitária” será o fim da gratuidade do ensino.
Nós já sabíamos que o governo se preparava para atacar o cerne da universidade pública, mas existia dúvidas sobre qual o modelo a ser seguido. O governo Bolsonaro escolheu o modelo Australiano, ou seja, vincular o financiamento das universidades ao quantitativo de estudantes captados por elas através de empréstimos estudantis que são amortizados na proporção de suas rendas e securitizados pelo Estado.
No último dia 10/7, o Ministério da Economia, o IPEA e o Banco Mundial organizaram em Brasília uma Conferência Internacional sobre financiamento vinculado à renda. Na abertura do evento, Bruce Chapman, um dos principais articuladores do fim da gratuidade na Austrália no final dos anos 1970. Chapman, intelectualmente um cretino, escreveu diversos artigos nos quais os dados sobre os impactos do fim da gratuidade são mascarados, principalmente sobre negros, aborigenes e as populações mais pobres dos trabalhadores na Oceania. Em um artigo publicado na área de economia da educação em meados dos anos 2007, Chapman afirma que o quatitativo das frações de trabalhadores não se modificou com o fim da gratuidade porque os empréstimos estudantis se tornaram uma forma de assistência importante para a “inclusão” e porque, pasmem, os estudantes mais pobres souberam escolher cursos mais compatíveis com as expectativas reais de pagamento de seus montantes creditícios. Com o fim da gratuidade e o peso do pagamento dos empréstimos no futuro, os estudantes de famílias mais pobres são condenados a escolher os cursos de curta duração, vinculados às áreas de atuação profissional de trabalho simples.
Na mesma conferência organizada pelo Ministério da Economia, IPEA e Banco Mundial, somente as universidades privadas foram convidadas. Pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), o sindicato do capital mais importante do país, falou diretor de Relações Institucionais do Semesp, João Otávio Bastos Junqueira. A Semesp passou a trabalhar proficuamente pelo fim da gratuidade nas instituiões públicas a partir do final dos anos 1990, nos inicio dos anos 2000 participou de diversas campanhas no fórum das privadas. Na medida em que os interesses das privadas foram sendo atendidos pelo Lulismo, a disputa contra a existência de universidades públicas foi colocada em segundo plano. Políticas como o Prouni, o Fies, Proies e financiamentos subsidiados do BNDES favoreciam o caixa dos grandes grupos de oligopólios educacionais. Quando o caixa começou a se esvaziar por volta de 2013, a extinção das públicas voltou a ser a pauta principal das negociações. A Semesp foi um de seus protagonistas mais voluntariosos, o comitê de políticas internacionais não só conseguiu trânsito no Congresso Nacional e no Ministério da Educação cada vez maior, como enviou diversas comitivas ao exterior para examinar as estratégias de países que lograram derrotar seus movimentos de trabalhadores e estudantes, colocando fim às universidades públicas. A Semesp passou a alternar entre o modelo Australiano, o sistema de voucher ou uma reforma total de inspiração coreana.
Estados Democráticos e seus Efeitos Colaterais: Evaldo e Luciano mortos, Assange e Ola Bini presos
No dia 8 de Abril de 2019 o carro de uma família foi fuzilado por 80 tiros no Rio de Janeiro. Dentro estavam o músico Evaldo dos Santos Rosa, que dirigia, o sogro no banco de passageiro, também baleado e, no banco de trás, a companheira do músico, Luciana dos Santos, o filho do casal, de sete anos, e uma amiga.
Os disparos foram feitos por nove militares do Exército Brasileiro, que assassinaram Evaldo e também Luciano Macedo, catador de materiais recicláveis que tentou ajudar a família. A cena da dor de Luciana em frente ao carro perfurado por balas onde se encontrava o corpo do seu companheiro chocou o mundo.
No dia seguinte ao crime, o Comando Militar do Leste divulgou uma nota em que dizia que Evaldo e seu sogro eram criminosos. Ambos foram acusados de atirar contra os militares, que revidaram. A nota mentirosa contradizia completamente as imagens divulgadas na internet e os relatos das testemunhas, mas reproduzia o modus operandi das dezenas de “autos de resistência” que acontecem diariamente pelo país.
Em 11 de Abril, do outro lado do Atlântico Julian Assange era preso em Londres pela polícia Britânica após ser expulso da embaixada do Equador, lugar onde ficou asilado (praticamente preso) durante sete anos, buscando evitar responder por uma acusação de abuso sexual na Suécia, que poderia levá-lo a uma extradição para os EUA.
Assange ficou conhecido ao tornar-se a face pública da Wikileaks, que ganhou grande repercussão mundial após a divulgação em abril de 2010 de um vídeo chamado “Assassinato Colateral”, que mostrava o massacre covarde de uma dúzia de civis desarmados no Iraque por um helicóptero Apache do Exército dos EUA.
Na quinta passada, por 11 votos a 3, os ministros do STM (Superior Tribunal Militar) decidiram por conceder liberdade aos nove militares envolvidos na ação, sendo que a única ministra acusou os militares de manipulação de provas. No mesmo dia o Departamento de Justiça dos EUA apresentou 17 novas acusações contra Assange, que pode enfrentar décadas de prisão após ser acusado de violar a Lei de Espionagem, despertando preocupações de parte da imprensa americana com o cerceamento da liberdade de expressão.
Dois casos que apesar de em contextos distintos nos mostram com clareza a natureza autoritária, hipócrita e assassina dos Estados “Democráticos” e suas Instituições.
Assange foi preso por ajudar a revelar a natureza imperial e assassina dos EUA, o que provavelmente nunca teria ocorrido sem que Chelsea Manning, que serviu ao exército, fornecesse as informações necessárias. Chelsea que passou anos na prisão, sendo a sua detenção mais recente ainda este ano após ter se negado a depor em um caso envolvendo a Wikileaks.
A mais recente vítima desta trama é o desenvolvedor de software Sueco Ola Bini, preso no aeroporto de Quito em 11 de abril, no mesmo dia da prisão de Assange. Seus direitos básicos foram negados: ele não foi informado das acusações e foi mantido sob custódia ilegal sem poder se comunicar com o cônsul sueco. Ola Bini é acusado de “conspirar” com hackers russos e colaborar com a Wikileaks para prejudicar o governo do presidente Lenin Moreno, que entregou Assange de bandeja para seus algozes imperialistas.
As máscaras vão caindo para aqueles que ainda acreditavam no Estado Democrático de Direito, ou mesmo nas liberdades burguesas, como mostra o caso de Assange com relação a liberdade de expressão, em um processo capitaneado pelos Estados Unidos, ainda sob governo do democrata Barack Obama, e continuada por Donald Trump, com complacência do Reino Unido, da Austrália, Suécia e agora do Equador.
Já aqui no Brasil os “assassinatos colaterais” ocorrem diariamente na guerra contra o seu próprio povo, negro e pobre. Evaldo foi “confundido com bandidos”, estas pessoas que podem ser mortas livremente, desde que se encaixem com determinado perfil bem conhecido por nosso Estado racista e suas policias e forças armadas servis as elites.
Ações que parte da população aplaude ou faz pouco caso, endossando o discurso fascista que ajudou a eleger Bolsonaro e que fornece o apoio popular necessário para a aprovação de projetos de lei como o “PL-Anticrime” do ex-juiz Sérgio Moro, que promete diminuir pena ou mesmo isentar de responsabilização penal policiais que matem em serviço. Não é a toa que o governador do Rio, o também ex-juiz Wilson Witzel se sentiu a vontade para participar de uma operação policial em um helicóptero ao lado de snipers para “dar fim à bandidagem”, e que acabou por metralhar uma tenda evangélica, quase repetindo mais um “assassinato colateral”.
Os recados são claros: em tempos de crise global do capitalismo, mudanças climáticas e disputas geopolíticas as forças repressivas do Estado se voltam para marginalizar e vigiar ainda mais as classes subalternas, as populações saqueadas pelas guerras e as minorias. Para levar a cabo seus projetos autoritários estes governos precisam contar com uma mobilizada base de apoio, para a qual não faz diferença moral saber das atrocidades cometidas.
Aquelas que ousarem se levantar contra o status-quo serão acusadas de traidores e duramente reprimidas. Se organizar e tomar medidas para melhorar nossa segurança são imperativos para quem está disposto a resistir aos tempos sombrios que se avizinham, e para quem ainda acredita que outros mundos são possíveis.
Manifesto: Odeia a Mídia? Então Retome a Mídia!
O ano é 1999, em Seatle nos EUA os protestos contra a reunião da Organização Mundial do Comércio reúnem milhares de pessoas. O movimento de resistência contra a globalização neoliberal, vendida como a utopia capitalista pelos donos do mundo após a queda do muro de Berlim, estava em uma crescente.
A repressão estatal foi intensa, 500 pessoas foram presas e a guarda nacional foi convocada. A mídia corporativa do mundo todo repetia em uníssono o discurso da deslegitimação das manifestações através do foco nos atos de vandalismo contra os símbolos do capital.
“A mídia mente, precisamos da nossa própria mídia.” Assim pensaram aquelas e aqueles que participaram dos protestos. Precisamos divulgar e cobrir nossas ações, encontrar nossa linguagem e os meios para difundi-la. Era o germe do Centro De Mídia Independente, uma rede autônoma de organizações de mídia livre, uma teia de coletivos espalhados pelo mundo, com linguagem própria e que batia de frente com a hegemonia capitalista.
As Zapatistas e suas cores, nas montanhas de Chiapas serviam como inspiração para os “Outros Mundos” que sonhávamos construir: “Nosso sangue e nossas palavras acenderam um pequeno fogo na montanha e o levamos rumo à casa do poder e do dinheiro. Irmãos e irmãs de outras raças e outras línguas, de outra cor e mesmo coração, protegeram a nossa luz e dela acenderam seus respectivos fogos.”, diziam.
Cérebros, multicoloridos, sintonizam, emitem e comunicam para longe. Este impulso internacionalista e libertário teve ecos na América Latina e no Brasil, se mesclando ao caldo de experiência anteriores. O movimento de Rádios Livres no Brasil questionava o monopólio do espectro eletromagnético pelo Estado, entregando enormes fatias para empresas e igrejas, e migalhas para a comunicação comunitária e seus transmissores de baixa potência. Contra isso só havia uma saída: nos organizarmos em coletivos e colocar nossas próprias rádios no ar em um ato de desobediência civil. Na Argentina, companheir@s iam mais longe, e ministravam oficinas de montagem de transmissores, e até construíram uma estação de televisão livre em um prédio ocupado durante os protestos de 2001, no chamado Argentinazo.
O espírito criativo e rebelde do “faça você mesmo” estava presente nas mais diversas iniciativas. O movimento do Software Livre influenciou muita gente que construía estes espaços, com suas ideias de conhecimento aberto, construção coletiva e de adaptação de ferramentas para as necessidades locais. Coletivos ligados a tecnologia como o Riseup surgiram nesta maré, fornecendo até hoje plataformas baseadas em software livre em servidores autônomos para coletivos de ação pela transformação social.
Vinte anos depois, cabe nos perguntarmos, Onde estamos?
O mundo se afunda em uma disputa geopolítica entre EUA, China e Rússia. A crise climática e as ondas de refugiados são uma realidade, e extrema-direita cresce no mundo todo. Os EUA são governados por Trump e o Brasil por um sujeito que rasga elogios a ditadores e torturadores. O povo Curdo, luta cada vez mais isolado por uma revolução em territórios arrasados pela guerra civil e a Venezuela pode ser a próxima Síria. O próprio Capitalismo encontra-se em um campo de batalha na disputa pelo controle dos Estados, entre as antigas facções do neoliberalismo e as novas mais à direita que negam o “globalismo” e defendem nacionalismos chauvinistas, ressuscitando os fantasmas do fascismo.
E a mídia tem um grande peso neste cenário distópico.
Os governos latino-americanos da onda “progressista” pouco fizeram para mudar a realidade da mídia hegemônica em seus países. E nós, do lado autonomista desta história, vimos nossas iniciativas minguarem pelos mais diversos motivos.
Nunca tivemos tanta gente com acesso a Internet, e os computadores, antes restritos a uma seleta parcela da população, agora estão disponíveis para as massas e cabem na palma da mão. A televisão ainda tem a audiência de 79% dos brasileiros, mas o consumo de notícias pelas “mídias sociais” tem aumentado: 91% dos brasileiros disseram usar a internet para se informar e 138 milhões de brasileiros têm celular, com 116 milhões de pessoas conectadas na Internet, segundo dados de 2017/2018.
Hoje até nossos avós podem fazer uma “live” apontando os problemas do posto de saúde do bairro. Mas o que vemos está bem longe da utopia da Internet como ferramenta de libertação, como muitos de nós sonhávamos. Fomos atropelados pelo crescimento de gigantescas corporações nascidas no vale do Silício, que centralizaram a produção e o consumo de informações em um pequeno grupo de serviços tão simples e massivos quanto bilhões podem comprar. A centralização nestas plataformas é tão grande que 55% dos brasileiros acham que o Facebook é a própria internet.
Nesta maré, a “nova direita” incentivada por bilionários como os irmãos Koch e Steve Bannon, ideólogo da extrema-direita mundial, nadou de braçada. Adaptaram a sua linguagem aos memes e compraram consultorias de empresas de engenharia social como a Cambridge Analytica, investindo muito dinheiro em publicidade. As esquerdas se adaptaram ao sistema, criando suas próprias bolhas dentro das plataformas corporativas e abandonaram seus próprios espaços de comunicação, como os sites e listas de e-mails.
Não estamos mais nos anos 2000 e os desafios para a mídia independente de esquerda (a necessidade deste adjetivo já é um sinal disto) são gigantescos.
Mas se aprendemos algo nestes últimos anos, é a dura constatação de que as Plataformas que utilizamos não são “neutras”, elas refletem os interesses e propósitos daqueles que as construíram, e estão embebidas de seus valores. Isto é evidente em tempos de vigilância em massa e algoritmos obscuros controlados por corporações.
Portanto, um princípio que já nos foi muito caro no passado, segue cada vez mais fundamental nestes tempos turbulentos: É necessário que tenhamos o máximo de conhecimento e controle sobre as tecnologias e as ferramentas que utilizamos. Software Livre ainda é essencial, mas também precisamos pensar no desenvolvimento de infraestruturas autônomas de comunicação e até em hardware livre.
Para além deste princípio, temos outros pontos emergentes a pensar para evitar que nossos esforços tenham resultados efêmeros:
- O financiamento de nossas próprias iniciativas;
- A socialização do conhecimento técnico para além de pequenos grupos de especialistas;
- A possibilidade de integração/interação entre diferentes meios e ferramentas, inclusive as corporativas, para evitar a formação de guetos militantes;
Sem enfrentarmos estes problemas seguiremos discutindo superficialmente e no curto prazo apenas questões “práticas” como qual é o melhor aplicativo para alcançar seguidores ou se devemos impulsionar ou não o evento da próxima manifestação. Precisamos cada vez mais discutir Tecnopolítica e agir para retomar a mídia! Afinal de contas, já criávamos nossas próprias redes sociais muito antes do surgimento destes canalhas.
Por Capivara Vintage
Escrito no Verão de 2019
O que o caso do Facebook versus MBL pode ensinar para as esquerdas
No dia 25 de Julho o Facebook retirou do ar uma rede de páginas e perfis ligados ao Movimento Brasil Livre (MBL), movimento de direita protagonista no Golpe de 2016. Foram desativadas 196 páginas e 87 contas com a justificativa de “formarem uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”.
Parte da esquerda aplaudiu a ação, afinal o MBL apoia projetos de censura e perseguição politica de educadores em escolas (projeto Escola Sem Partido, que mais deveria se chamar Escola de Partido Único), foi um dos principais responsáveis pelo cancelamento de exposições Queer em museus e espalhou mentiras sobre a militante e vereadora do PSOL Marielle Franco, executada este ano.
Motivos não faltam para odiar o MBL e sua máquina de propaganda, que espalha mentiras de forma organizada no terreno fértil em que cresce o fascismo de verniz “liberal” no Brasil. Entretanto é necessário levantar alguns questionamentos e hipóteses sobre este acontecimento para o campo politico da esquerda, sem perder de vista o contexto mais amplo onde está inserido.
O ano eleitoral e o efeito Cambridge Analytica
Em Março deste ano o Facebook amargou um encolhimento de US$ 35 bilhões na bolsa de valores dos Estados Unido após a divulgação do escândalo da Cambridge Analytica, empresa que utilizou de forma não consentida informações privadas de 50 milhões de usuário em consultorias politicas, como a que influenciou o plebiscito de saída do Reino Unido da União Europeia e a campanha de Donald Trump para Presidente do Estados Unidos (ambos objetivos bem sucedidos).
Em ano eleitoral no Brasil, já surgem propostas de projetos de lei para criminalizar a elaboração e divulgação de Noticias Falsas, algo que existe antes mesmo da revista Veja, mas que virou o centro das atenções nos últimos tempos, cunhando o termo “Pós verdade” e ganhando até nome gringo (Fake News). Recentemente, o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral afirmou que poderá anular o resultado de uma eleição se esse resultado for decorrente da difusão massiva de notícias falsas.
Ao tirar parte da máquina de propaganda do MBL do ar, o Facebook pode estar tentando se precaver de amargar mais prejuízos em um outro grande escândalo politico. O dinheiro que continuariam a ganhar com esta rede financiada de forma obscura eles recuperam somente com a polêmica que a decisão da empresa tomou, vide o próprio MBL que está protestando dentro da própria plataforma. Além disto, como bem apontou matéria do The Intercept, apenas parte destas máquinas de propaganda da extrema-direita foram alvo da empresa, o restante continua gerando lucro na plataforma.
O projeto neoliberal e o isolamento da dissidência “radical”
Com o crescimento da extrema-direita no mundo é possível notar um movimento feito pelo stablishment neoliberal de criação do conceito de um novo “centro politico”, onde se agrupam candidatos com ideias alinhadas ao status quo. Isto aconteceu na França com a disputa de Macron (o candidato neoliberal) versus Marine Le Pen (da extrema-direita), e tem sido reproduzido aqui no Brasil, com Alckimin sendo chamado de “candidato de centro” por veículos da grande imprensa. Por sua vez, a esquerda mais tímida e social democrata também é empurrada para o “extremo”, sendo chamada de “extrema-esquerda” ou “esquerda radical”, como aconteceu com Bernie Sanders nos EUA, Mélenchon na França.
Se a esquerda social-democrata é considerada radical e até perigosa (Lula está preso), o que dirá a imprensa sobre os Anarquistas e Comunistas, ou integrantes de Movimentos Sociais que batem de frente com o sistema capitalista? Em um Brasil cada vez mais autoritário não faltam sinais de que o cerco estatal está se fechando sobre estes grupos, como demonstra a perseguição politica a participantes de centros culturais e grupos anarquistas em Porto Alegre ano passado, a condenação a 7 anos de prisão de 23 ativistas que participaram de protestos no Rio contra o ex-governador Cabral e a Copa de 2014 e o indiciamento de 18 manifestantes por portarem materiais de primeiros socorros antes de um protesto contra Temer em São Paulo em 2016, sendo que este último caso teve grande repercussão por envolver um Capitão do Exército infiltrado nas investigações (o caso “Balta”). Sem contar todos os lutadores “anônimos” assassinados na luta pela terra ou em defesa do meio ambiente, no país que mais mata militantes desta causas.
Com este panorama aterrador, o que impede uma empresa como o Facebook de utilizar o mesmo remédio amargo utilizado contra o o MBL em grupos “radicais” e “extremistas” de esquerda, que poderiam muito bem através da construção midiática já em curso serem pintados para a opinião pública como terroristas e pregadores da violência? Ou então fornecer de bom grado informações de militantes e suas organizações para órgãos de repressão do governo?
Os Ministérios da Verdade S.A
A preocupação com a proliferação das noticias falsas é pertinente, mas também aponta para caminhos autoritários e altamente rentáveis. A grande mídia em declínio por conta da massificação do uso das redes sociais tem visto no combate as noticias falsas um novo nicho de mercado, criando as chamadas “agências de checagem de fatos”, que nada mais fazem do que seguir as premissas básicas da atividade jornalistica. Fato é que se transformaram numa lucrativa indústria, sendo a agência checadora de fatos contratada pelo Facebook recebido aportes de bilionários como o conhecido investidor liberal George Soros.
Além dos propósitos mercadológicos buscando dar sobrevida a uma atividade em declínio, numa espécie de simbiose com as gigantes da tecnologia, a criação das agências de checagens de fatos pode ter um efeito explicito de fabricação do consenso, direcionando discursos e criando um “monopólio da verdade” baseado no argumento de autoridade da grande mídia, que como estamos cansados de saber mente o tempo todo. Para pinçar um exemplo, o caso recente do “terço abençoado pelo papa e entregue a Lula” demonstra este viés partidário no comportamento das agências.
Combinando os fatos acima com os projetos de lei que visam criminalizar a divulgação de “notícias falsas”, temos um perigoso caminho que pode desembocar em uma censura a vozes dissidentes, de forma similar ao Ministério da Verdade no livro 1984 mas desta vez engordando o bolso dos capitalistas ao invés de servir a um estado totalitário.
A retomada da construção da autonomia na Internet
O Facebook é um espaço privado, regido por regras impostas por uma corporação multinacional, sujeito a vigilância e que ganha muito dinheiro com nossos dados e tempo de vida drenado pela plataforma. Nenhum movimento social, organização politica ou militante deve ignorar estes fatos apesar das facilidades de uso, potencial viciante e abrangência que a plataforma provê.
É um tanto frustrante escrever isto quase 20 anos depois do surgimento de experiências libertárias como o Centro de Mídia Independente ou do Riseup.net, pois me parece que iniciativas como estas que buscam construir nossas próprias ferramentas comunicacionais baseadas em autonomia, democracia radical e solidariedade tiveram um grande refluxo nos últimos anos, cedendo espaço para plataformas centralizadoras, proprietárias e que transformam seus usuários simultaneamente em meros consumidores e em “moeda” de troca para o seu lucro.
Sem autonomia para manter nossos próprios espaços na Internet estaremos reféns destas plataformas e dos caprichos de seus donos e de seus algoritmos “caixa preta”. Precisamos urgentemente voltar a lutar por uma Internet livre, pela construção de nossos próprios espaços virtuais com financiamento independente e baseadas em Software Livre (com código aberto), com criatividade e atenção redobrada para o desenvolvimento de uma Cultura de Segurança, tão necessária em tempos de vigilância em massa e perseguição das dissidências.
A luta será árdua, os mares estão turbulentos, mas não podemos abandonar a Internet, este bem comum e seu potencial revolucionário de comunicação à deriva para os novos latifundiários digitais.