[Estopim Periódico] Entrevista sobre a Ponta do Coral

Replicação da entrevista feita por Nicolas David, do Estopim Periódico 

A MILITÂNCIA QUE NÃO SE CALA |

A polêmica ideia de levantar um imponente prédio de 18 andares na Ponta do Coral, área central de Florianópolis, tem um movimento social cada mais forte apresentando os seus contrapontos. O Movimento Ponta do Coral 100% Pública, unido a diversos outros representantes do movimento social de Florianópolis e entidades civis, propõe uma utilização social e menos agressiva à natureza desse nobre espaço da nossa Ilha, que é a Ponta do Coral.

Nesta entrevista, entenda os principais questionamentos do movimento que há mais de 30 anos milita nesta causa e que neste ano precisou se mobilizar com mais frequência por meio de manifestações, atos e eventos visando alertar a população a respeito das má condução do poder executivo da Capital.

>>> A ENTREVISTA <<<

✔ Qual foi o estopim da mobilização em defesa da Ponta do Coral?

A luta começou há cerca de 30 anos, quando a área foi vendida, de forma ilegal, pelo então governador Jorge Bornhausen, com a desculpa de comprar um terreno para a Fucabem, o que nunca ocorreu. Estudantes, moradores, pescadores artesanais e o conjunto da população se manifestam contrários ao uso privado e abusivo pretendido. Nos últimos anos, especialmente após a divulgação dos planos da Hantei Engenharia de construir um megaempreendimento hoteleiro, o Movimento Ponta Do Coral 100% Pública tem realizado vários atos e campanhas pela utilização pública e cultural desta área e tem recebido enorme apoio. Obtivemos mais de 17.500 assinaturas no abaixo-assinado virtual pela defesa da Ponta do Coral 100% pública.

✔ Qual o impacto que o movimento acredita ter conseguido através dos atos já realizados?

A cada ato, seja no local ou em outros pontos críticos da cidade como a Câmara de Vereadores, Prefeitura e a FATMA, o movimento se fortalece e ganha apoio da população que passa a enxergar as irregularidades e absurdos constantes no processo de aprovação do hotel e também a importância de proteção e revitalização desse canto espetacular e abandonado da cidade.

Cada pessoa que consegue ter acesso à Ponta do Coral – o que muitas vezes só ocorre durante os eventos dado o abandono atual proposital da área – sai maravilhada e conquistada pela ideia de criação de um parque onde se pudesse observar todos os dias aquele pôr-do-sol maravilhoso e o cenário bucólico da pesca artesanal que ocorre nos ricos arredores do manguezal do Itacorubi.

Depois do ato Enterro dos Ossos, estivemos na Câmara, pressionando os vereadores a votarem uma proposição dos vereadores Lino Peres e Josemir Cunha requerendo que o prefeito revogue o decreto ilegal, que ele publicou poucos dias após a aprovação do novo Plano Diretor. O requerimento também aprovou a ida do Procurador do Município à tribuna para dar explicações acerca da ilegalidade do ato do prefeito. Em uma votação apertada (10×9), entre manifestações contundentes, fomos vitoriosos. Agora o prefeito tem cerca de 10 dias improrrogáveis para responder e o Procurador 30 dias para ir à Câmara. Com certeza, nesta data, estaremos todos lá.

Outro ato foi o de protocolo de uma carta ao prefeito exigindo a revogação do decreto. A recepção da população que passava pelas proximidades da prefeitura naquele momento foi excelente. A grande maioria mostrou-se indignada com a ação do César Souza Jr.

Neste domingo do 8 de março, tivemos um evento múltiplo. O Movimento Ponta do Coral 100% Pública, entendendo a importância da luta pela igualdade de direitos, pelo reconhecimento e respeito das diversidades, pelo fim da violência contra as mulheres e homossexuais, acolheu Movimentos de Mulheres, Grupo Acontece – Arte e Política – LGBT, Frente Parlamentar Contra a Violência Contra a Mulher, Cine Amarildo, artistas, ciclistas, brincantes, músicos, para atividades como piqueniques, oficinas, rodas de música, jogos, conversas, fazendo cumprir a função social daquele espaço maravilhoso, que tem ficado desapercebido.

Como a prefeitura, de forma irresponsável e ilegal, abandonou a Ponta do Coral, demos continuidade à limpeza da área já partir das 10 horas da manhã.

✔ Outros protestos estão previstos? Para quando?

No final de semana do aniversário da cidade faremos um grande ato, onde além das atividades culturais, daremos continuidade a coleta de assinaturas pela criação do Parque e apresentaremos nossas propostas.

✔ Os pescadores que moram nas cercanias, estão de que lado?

Historicamente os pescadores tem sido preteridos nessa cidade. Muitas vezes a especulação imobiliária os tem cooptado através de valores irrisórios em dinheiro. Conhecemos muitos casos em que as famílias foram expulsas de sua região de origem e se instalaram nas periferias das cidades da Grande Florianópolis. Locais que não mais possibilitam a prática da pesca. Muitos estão empobrecidos e com sua auto estima abalada. Não sabemos exatamente o que aconteceu com cada pescador, que tirava seu sustento na Ponta do Coral, mas temos certeza que foram expulsos pela falta de condições e de estímulo. Os que bravamente permaneceram ali, tem sido diariamente assediados pela ideia do Parque.

Temos também os pescadores da Ponta do Goulart, uma das três Pontas, que conformam a proposta do Parque, formam a maior colônia de pescadores registrados de Florianópolis. Estes têm plena consciência do quanto seria prejudicial um edifício naquele local. Têm declarado apoio e colaborado com a proposta do Movimento.

✔Explique a ideia do Projeto Parque Cultural das 3Pontas. Resumidamente, o que o projeto prevê?

O parque visa a conservação ambiental e cultural das 3 pontas: Coral, Lessa e Goulart, únicas áreas naturais remanescentes da antiga formação geomorfológica da Baía Norte, cortadas pela Avenida Beira Mar no final da década de 1970.

Para tal, a totalidade da área da Ponta do Coral teria que ser transformada em uma Área Pública Não Edificante e uma Área Verde de Lazer, por meio da alteração de seu zoneamento no Plano Diretor.

O objetivo é garantir o uso público e adequado da região e da Baía Norte, fomentando um turismo de alta qualidade, que permita a interação entre a população e os visitantes com a natureza.

Outro objetivo do parque é a geração de trabalho e renda para a população e economia local, nos setores da pesca artesanal – três comunidades pesqueiras cercam a área. O uso e ocupação do solo do entorno seria revisto e seguiria na mesma linha.

Tudo isto poderia ser alcançado com a valorização da área através de uma manutenção adequada, de uma rede de mobilidade e acessibilidade entre as três Pontas e da revitalização da orla com a construção de passarelas, passeios, deques, ciclovias e caminhos, garantindo acesso às áreas.

✔ Existem representantes ou órgãos do poder público que estão ao lado do movimento?

Sim, apenas para citar alguns: o IPHAN, órgão responsável pelo Patrimônio Nacional, em dois pareceres (141/11 e 066/12), assinalou a importância histórica e atual da Ponta do Coral e que não deveria ser ocupada por empreendimentos, garantindo o espaço como livre e público. O segundo documento foi assinado pelo arquiteto Dalmo Vieira Filho, que na época era superintende da autarquia federal em Santa Catarina e hoje, acumulando as pastas do IPUF e SMDU, acaba de aprovar o Hotel de 18 andares na Ponta do Coral, contrariando o seu próprio posicionamento institucional anterior.

O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente e responsável pelas Unidades de Conservação Federais, emitiu parecer contra o empreendimento de hotel da Hantei. Em seu documento, destaca que a Ponta do Coral fica na Zona de Amortecimento da Estação Ecológica de Carijós, bem como do Parque Municipal do Manguezal do Itacorubi.

>>>Movimentos sociais e a população <<<

✔ Qual a maior dificuldade dos movimentos sociais? Seria a interlocução com a população?

Dentre as dificuldades, podemos citar a parcialidade da grande imprensa, que acaba por influenciar parte da população, que não enxerga toda a situação já citada nesta entrevista.

A verdade é que a mídia tem sido cada vez mais autoritária, nada plural nem democrática. Com esse instrumento poderoso, fica difícil se contrapor ao governo municipal e seus parceiros empresários.

Mas nos sentimos vitoriosos, porque mesmo nessa conjuntura temos conseguido ampliar o movimento e ter algumas batalhas ganhas, como o apoio da SPU (Superintendência do Patrimônio da União), dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, de órgãos Públicos e alguns vereadores. Vale dizer que vários vereadores estão entendendo as ilegalidades envolvidas nos decretos do prefeito em 2014 e do governador Bornhausen em 1980.

Outro problema é o sistema judiciário, que na maioria das vezes representa interesses privados. Enquanto eles não precisarem explicar ao público suas ações, suas decisões, teremos dificuldade de ganhar as batalhas. Mas é justamente nessa direção que estamos investindo, quando acionamos os Ministérios Públicos e esclarecemos à população da real intenção do governo municipal e estadual. O juiz tem que primar pela independência, para poder julgar de forma ética. Já tivemos sucesso também nesse quesito em um dos processos julgados pelo juiz Marcelo Krás.

Um desafio difícil de ser superado é a prevalência nos órgãos públicos de “cargos de confiança” na maioria das vezes políticos. Estes “gestores” não têm conhecimento e sensibilidade técnica para tratar de questões essenciais ao bem estar da população, causando enormes danos que acabam sendo o foco da luta incessante dos movimentos.

✔ E a população está interessada na atuação dos movimentos sociais?

As lutas dos movimentos sociais têm se aproximado cada vez mais da população e tem sido reconhecida por ela. Temos presenciado apoio explícito não somente ao Movimento Ponta do Coral 100% Pública, mas a outros como na área da saúde e do transporte.

Vale levantar que esses movimentos são compostos por uma parcela da população, portanto acreditamos na legitimidade deles.

Foto: Fã page “Ponta do Coral”

Por Nícolas David, que não quer se calar e nem calar a militância.

Dia Internacional da Mulher na Ponta do Coral (08/03)

Bamboles
A PONTA DO CORAL É PARA TOD@S!

Este domingo, dia Internacional da Mulher, será marcado por várias atividades à partir das 15 horas na Ponta do Coral – picnic, oficinas, cinema, bicicletada, conversas, música, jogos, etc.

Movimentos de Mulheres, Grupo Acontece – Arte e Política – LGBT, Frente Parlamentar Contra a Violência Contra a Mulher, Cine Amarildo, artistas, ciclistas, brincantes, gentes comuns estaremos todos ocupando a Ponta e fazendo cumprir a função social daquele espaço maravilhoso e que tem passado desapercebido por muitos.

Entendendo a importância da luta pela igualdade de direitos, pelo
reconhecimento e respeito das diversidades, pelo fim da violência contra as mulheres e homossexuais, o Movimento Ponta do Coral 100% Pública acolhe a todas e todos e convida a população em geral para participar desse dia de ocupação de um espaço que é público de direito.

Convide seus amigos e familiares.

Traga seu lanchinho, sua bicicleta, sua pandorga, seu violão.

Venha conhecer a ponta e nossa proposta de parque para o único espaço aberto que sobrou na região!

Como a prefeitura, de forma irresponsável e ilegal, abandonou a Ponta do Coral, estaremos dando continuidade à limpeza a partir das 10 horas da manhã.

Todos estão convidados! Tragam suas ferramentas!

Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/788655484558452/

Dia Internacional da Luta das Mulheres – Atividades do 8 de março em Floripa

Construímos de forma coletiva e horizontal um calendário de atividades para celebrar, lutar e comemorar o 8 de março em Florianópolis, para não se esquecer que esse é um dia de luta FEMINISTA! ♀

São várias atividades diferentes entre os dias 05 e 13 de março, todas abertas e gratuitas.

Quarta- feira (04/03)
Intervenção Urbana com o Grupo ETC
Instituto Arco Iris na Travessa Ratcliff
19h

Quinta- feira (05/03)
O que: Oficina de Zine, traga suas ideias, tesoura, tinta e papel e venha fazer nosso zine.
Instituto Arco Irís na TRavessa Ratcliff
16h

Sexta- feira (06/03)
Encontro de Batuqueiras e apresentação do grupo La Clinica
Instituto Arco-íris na Travessa Ratcliff
19h

Domingo (08/03)
Piquenique do Acontece com oficinas de camisetas, cartaz e ensaio da bateria
(leve sua cesta com guloseimas, canga, camisetas, e tintas!)
Ponta do Coral
15h

Segunda- feira (09/03)
Cine debate
Instituto Arco-íris na Travessa Ratcliff
18h

Quarta- feira (11/03)
Roda de Conversa sobre Aborto
Coreto da Praça XV
18h

Sexta- feira (13/03)
Ato do Dia Internacional das Mulheres
Venha queimar os filhos do Patriarcado!
Frente ao TICEN
18h

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Surpresinha no Ticen hoje às 17h (25/02)

Alô Prefeito Jr. e sua Turminha da Fênix, essa é pra vocês!

Hoje, quarta feira, 25. 02, as 17h tem surpresa em frente ao TICEN. O SINTRATURB, o MPL e a Frente de Luta pelo Transporte Público promoverão uma ação para falar mais uma vez sobre a qualidade do transporte coletivo na capital.
A prefeitura prometeu grandes mudanças no sistema. Mas com um processo licitatório claramente direcionado e cheio de furos, nada mudou. O edital da licitação previa ar condicionado nos novos ônibus, mas durante todo o verão os usuários e trabalhadores cozinharam com as altas temperaturas em veículos lotados.

O consórcio Fênix tenta fazer uma ginastica nos números da idade da frota, incluindo os amarelinhos na conta para dizer que temos ônibus mais novos e acham que nos enganam. Cansados da falta de conforto, qualidade, dos horários escaços, das ameaças de demissões, das tarifas absurdas, vamos de novo…
surpresinha

Ato na Câmara de Vereadores contra a construção de um edifício de 18 andares na Ponta do Coral (25/02)

Na quarta-feira, às 16 horas, a Câmara de Vereadores de Florianópolis votará um requerimento dos vereadores Lino Peres e Josemir Cunha solicitando que seja anulado o decreto ilegal que o prefeito César Souza Júnior editou poucos dias após a aprovação do novo Plano Diretor.

O Decreto número 12.670/2014 possibilita que “os processos de aprovação de projetos, licenciamentos de obras, renovação de alvará, emissão de Habite-se, protocolados até o dia 17 de janeiro de 2014″ sejam analisados em conformidade com o Plano Diretor anteriormente vigente. Ou seja, no caso do projeto de construção de um hotel na Ponta do Coral, como a Hantei alega que o projeto é o mesmo protocolado na prefeitura há anos, as regras passam a permitir a construção de 18 andares. O novo Plano Diretor, apesar de não atender à demanda dos movimentos sociais, permite a construção de 6 andares. E este desrespeito do Prefeito para com a população e a Câmara de Vereadores, passando por cima das regras do novo Plano Diretor, permite também que outros empreendimentos se beneficiem do retrocesso que é este Decreto.

A população vai permitir mais este absurdo vindo do Prefeito? A Câmara de Vereadores vai baixar a cabeça e aceitar esta humilhação?

Temos a certeza de que com a presença da população na Câmara os vereadores podem se comportar de forma diferente.

Link para o Decreto 12.670/2014 http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/25_07_2014_17.35.57.2d24927e37001cbc744c78871de9589b.pdf

O Movimento Ponta do Coral 100% Pública defende que a área seja 100% pública e mantida em condições adequadas para que a população usufrua deste espaço. A luta dos movimentos sociais em defesa da Ponta do Coral é antiga. Desde 1981, quando a área foi vendida pelo então governador Jorge Bornhausen (a venda é considerada irregular e está em trâmite judicial), estudantes, moradores, pescadores artesanais e o conjunto da população se manifestam contrários aos usos privados e abusivos pretendidos.

Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/338076116387340

Ato pela Ponta do Coral 100% pública e pela e criação do Parque Cultural das 3 Pontas – 12/02

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Ponta do Coral 100% pública, porque Hotel é para poucos e Parque é para todos!

PARTICIPE do ATO em frente à FATMA, nesta quinta-feira, dia 12/02, às 13h.

O hotel de 18 andares na Ponta do Coral, na Avenida Beira-mar Norte, em Florianópolis, pode ser aprovado a qualquer momento pela FATMA (Fundação do Meio Ambiente). Por isso, se você quer um PARQUE público bem cuidado e seguro em vez de um hotel que vai causar mais engarrafamento, afetar o meio ambiente e tirar nossa vista para o mar participe do ato na FATMA.

A licença para a obra do hotel foi autorizada (04/02/2015) pelo prefeito César Souza Junior, o mesmo que prometeu em sua campanha para prefeito que nunca autorizaria uma obra como essa na Ponta do Coral. O prefeito Junior prometeu uma coisa, mas fez outra. A prova está nesse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=EjIA3wF7_g8).

O licenciamento do projeto do hotel de 18 pavimentos da construtora Hantei foi assinado pelo secretário da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SMDU), Dalmo Vieira, e seu adjunto, Marcelo Martins.

Esta decisão é ilegal, pois contraria o próprio Plano Diretor que define um máximo de 06 (seis) andares para qualquer construção naquela área. O projeto do hotel de 18 andares da Hantei atropela os desejos de boa parte da comunidade, que anseia por mais espaços públicos de convivência, e que há anos luta para a criação de um parque público na área (http://parqueculturaldas3pontas.wordpress.com/).

Sabemos que os interesses dos poderosos (políticos, construtoras e grande imprensa) vão prevalecer se não houver pressão popular!

Vamos pressionar para que a FATMA não aprove o projeto!

Também vamos pressionar para que a Prefeitura entregue o projeto que está tramitando para a população. O projeto já foi solicitado oficialmente, mas misteriosamente existe sempre uma desculpa para que ele não seja entregue: http://www.professorlinoperes.com.br/pagina/350/ponta-do-coral-falta-de-transparecircncia-. A população tem o direito de saber o que estão planejando fazer na área!

Ajudem a divugar o evento! Link para o evento no Facebook

Organizado pelo Movimento Ponta do Coral 100% Pública e na luta pelo Parque Cultural das 3 Pontas

Entrevista – Entenda as causas Frente de Luta pelo Transporte de Florianópolis

Replicação do Estopim Periódico
Entrevista

| ENTENDA AS CAUSAS DA FRENTE DE LUTA PELO TRANSPORTE |

Eles estão na vanguarda dos movimentos sociais em Florianópolis e prometem realizar na próxima sexta-feira, 23/01 um ainda maior que os anteriores. Tachados de baderneiros, comunistas e até de vagabundos, ocupam as ruas da cidade a fim de contestar a exploração dos empresários do transporte coletivo e o desleixo das autoridades políticas com a causa.

A Frente de Luta pelo Transporte reclama e atua não somente quando a passagem aumenta. Mas, nesses momentos, conseguem chegar até o cidadão comum porque é no bolso dele que pesa o preço abusivo das tarifas. Nessa entrevista, Tiago de Azevedo, vulgo Nando Reis, esclarece quem é o grupo de manifestantes que promete parar a cidade caso a tarifa não baixe.

>>> A história <<<

✔ Qual foi o estopim da criação da Frente de Luta pelo Transporte?

A Frente de Luta pelo Transporte surgiu em 2009 a partir do aumento das tarifas daquele ano. A criação da Frente foi uma forma de unificar e organizar todas e todos que lutavam contra os aumentos de tarifa e pela melhoria do transporte.

✔ Que outros movimentos e atores sociais integram a Frente?

Para além do Movimento Passe Livre a Frente é composta por diversas organizações políticas, entidades sindicais e estudantis, associações de bairro, movimentos sociais e dezenas de pessoas que se somam a luta sempre que a Frente se organiza em torno de alguma pauta.

✔ Quais são os principais questionamentos e pautas da Frente?

As pautas da Frente são a revogação imediata do aumento das tarifas, seguindo para a redução até a Tarifa Zero; a suspensão do contrato da recente licitação e da concessão do transporte, abrindo o debate com a população para a construção de um modelo de transporte onde ela possa opinar diretamente.

✔ Quais são as políticas públicas que estão sendo criadas ou reivindicadas pela Frente?

As principais reivindicações da Frente estão compiladas na Carta de Convergência da FLTP¹, contida em nosso site e elaborada a partir de um seminário realizado em 2011. Em resumo posso destacar:

– A defesa do transporte enquanto direito, como está contido na Lei orgânica de Florianópolis. Sendo um direito o transporte deve ser garantido a todos, sem nenhuma forma de exclusão que impeça a mobilidade das pessoas, como a tarifa. A Tarifa Zero é o meio para garantir isso de forma plena;
– O controle social do transporte, com o fim do sistema de concessão, que entrega todo o controle do sistema nas mãos dos empresários. Defendemos passar a gestão do sistema para a prefeitura, com conselhos de ampla participação popular e poder de deliberação;

– A priorização do transporte coletivo em relação ao transporte individual. A política de investimento em mobilidade da cidade ainda é focada na construção de estradas, elevados e estruturas viárias para o transporte individual. É preciso uma política que priorize o transporte coletivo, tornando-o mais eficiente e atrativo. Para isso é necessário a criação de vias exclusivas para ônibus e a ampliação de outros modais para transporte de massa, diferente dos projetos de transporte marítimo e via teleférico apresentados pela prefeitura recentemente, mas que possuem um foco meramente turístico devido a seu alto custo e sua ineficiência.

– Em resumo as políticas defendidas pela Frente giram em torno do fim do sistema de concessão baseado na tarifa e na implementação de um sistema baseado na Tarifa Zero, financiado através de um fundo municipal do transporte. Esse fundo, por sua vez, seria financiado por impostos onde quem tem mais e lucra com a melhor mobilidade da cidade pagaria mais. Além disso, acabaria com o sistema baseado na tarifa e portanto onde as empresas ganham por passageiro, sendo o transporte remunerado por km rodado. Assim acabaria com a lógica que busca ônibus socados de gente e com linhas curtas e ineficientes.

✔ Ao longo desses anos de atuação, que vitórias vocês já obtiveram?

As principais vitórias concretas na luta do transporte na cidade de Florianópolis ocorreram em 2004 e 2005, quando conseguimos derrubar os aumentos de tarifa. Mas também foi possível colocar em pauta na cidade a discussão sobre o passe livre, a tarifa zero ou mesmo o debate sobre a criação de vias exclusivas para ônibus, que a poucos anos atrás era considerada um absurdo pelas gestões das prefeituras.

>>> Manifestações <<<

✔ Por que a Frente e o MPL saem as ruas somente quando a passagem aumenta, visto que os problemas do transporte coletivo são permanentes?

Não saímos as ruas apenas em momentos de aumento. Em 2011 quando a câmara de vereadores aprovou uma lei de licitação que doava toda a frota de ônibus para as empresas e garantia que essas empresas pudessem ficar mais 40 anos controlando o sistema, nós fomos as ruas. Em 2013 e 2014, quando a prefeitura se recusou a reduzir a tarifa mesmo com a ampliação de subsídios e realizou uma licitação totalmente direcionada para o Consórcio Fênix, sem qualquer participação popular na sua elaboração, nós fomos as ruas. Da mesma forma que vamos as ruas todo o dia 26 de outubro no dia nacional de luta pelo passe livre. Porém, esses processos historicamente não conseguem servir de estopim para indignar a população a ir as ruas da mesma forma que um aumento de tarifa consegue quando pesa no bolso da população.

✔ Há dificuldades para trazer a população para perto das manifestações?

Sempre há, em especial pela difamação que a grande mídia faz tentando blindar a prefeitura e o governo do estado. Na rua, a receptividade da população é muito boa. A grande maioria das pessoas concorda com as reivindicações, que o sistema de transporte é precário, ineficiente e caro. Apoiam as manifestações, mas a falta de crença na política e a própria falta de tempo impede muitas pessoas de participarem das manifestações.

✔ Como vocês analisam a atuação da polícia especificamente nos protestos de 2015?

A polícia militar está tentando se pintar enquanto uma polícia que negocia em vez de usar a força. Porém, no último ato, o efetivo mobilizado demonstrou que isso não passa apenas de um discurso vago. Não se pode chamar de negociador alguém que demonstra uma capacidade de força muito superior para conseguir o que quer. Não se negocia com alguém colocando uma faca no pescoço dela.

✔ A manifestação de rua é a única maneira de contestar os problemas do transporte coletivo de Florianópolis e região?

Não é a única, existem meios institucionais e jurídicos para isso. Mas dado a podridão desse sistema, evidenciados pelas dezenas de casos de corrupção, além do nível de conchavo dentro dele, sem as mobilizações de rua esses meios costumam virar papel perdido dentro de gavetas. As mobilizações de rua conseguem unir em um mesmo espaço aqueles que sozinhos têm pouca força, mas querem reivindicar e pressionar o poder público por mudanças, dando visibilidade a essas reivindicações e convocando mais pessoas a se unir a essa luta.

>>> A prestação de serviços <<<

✔ Falem sobre as inconsistências do último edital de exploração do Transporte Público da Capital vencido pelo Consórcio Fênix.

O edital é claramente direcionado para as mesmas empresas que controlam o sistema há 90 anos. Não a toa teve apenas uma concorrente. Ele exigia a existência de garagens e uma frota que apenas quem já operava no sistema poderia ter. A licitação também previa a demissão de centenas de cobradores, o que contrariava um acordo feito pelo TRT. Além disso, esse edital deveria ter sido elaborado com a participação dos usuários, como determina o Plano Nacional de Mobilidade Urbana.

✔ E a prestação de serviços do Consórcio, melhorou, piorou? Apontem os principais aspectos.

Não são poucas as reclamações de cortes de horários. Além disso, as ampliações de horários têm ocorrido apenas nas linhas executivas, o famoso amarelinho, cuja tarifa é bem mais cara. Também foram cortadas ao menos nove linhas. Obviamente o serviço só piorou.

>>> Tarifa Zero <<<

✔ Por que é tão difícil implantar a Tarifa Zero e garantir o direito a mobilidade das pessoas?

Tecnicamente não é difícil implementar a Tarifa Zero, basta criar um fundo para financiá-la. Economicamente não há nada que a impeça. O poder público tem capacidade de destinar verba específica para o fundo, determinando a origem da receita, a o mesmo tempo que a livre mobilidade das pessoas ajuda a economia a circular e se desenvolver muito mais. A dificuldade é falta de vontade política por parte do poder público.

✔ Existe algum modelo de transporte público internacional que tenha Tarifa Zero, ou que por alguma razão possa inspirar o Brasil?

Diversas cidades do Brasil e do mundo já implementam a Tarifa Zero de forma parcial ou completa. Tallin, na Estônia, foi a primeira capital do mundo a implementar Tarifa Zero a partir de 2013. O uso do carro diminuiu drasticamente, gerando impactos sociais e ambientais. Outras cidades, como Sydney, na Austrália, possui Tarifa Zero em diversas linhas centrais da cidade. No Brasil, a ideia já foi efetivada em parte da cidade de São Paulo na década de 1990. Maricá, no Rio de Janeiro, começou a implementação de transporte gratuito neste ano. Tarifa Zero não é uma utopia, é realidade.

Saiba mais:

1 – Leia a carta de convergência da Frente ( http://bit.ly/1GvrHsa).

Por Nícolas David, que já preparou seu armamento verbal para o próximo ato.

Novas manifestações pelo Transporte Público em Florianópolis, 10 anos depois da Revolta da Catraca

Berço das Revoltas da Catraca em 2004 e 2005, a população de Florianópolis e região metropolitana (SC) mais uma vez protesta contra o aumento das tarifas do transporte coletivo.

O reajuste autorizado pela Prefeitura, fez com que a tarifa subisse de R$ 2,58 para R$ 2,98 no cartão, e de R$ 2,75 para R$ 3,10 no dinheiro. O valor teve um acréscimo de 15%, e entrou em vigor no dia 11/01/2015.

A situação é ainda pior no transporte intermunicipal da região metropolitana, que  AUMENTOU DUAS VEZES só em 2014. Quem mora no continente está gastando de R$ 3 a R$ 6,20 por rodada de catraca e nem integração tem!

Segundo o advogado do Consórcio das empresas que operam na cidade, foram contabilizados para o aumento a variação dos valores dos combustíveis, das carrocerias, da mão de obra, calculados pelo IGP, além da manutenção dos postos de trabalho de 414 cobradores, por determinação do TRT. Segundo a Prefeitura e o Consórcio, o reajuste teria sido de 7,14% caso os cobradores tivessem sido demitidos.

A jogada combinada entre a Prefeitura e o Consórcio de empresas já foi desmentida pelo TRT, que afirmou que a decisão do tribunal de manter os 414 cobradores foi anterior ao edital que estabeleceu as novas regras para o funcionamento do transporte coletivo na Capital, datado de 2013. O edital em questão, solenemente ignorou o que havia sido decidido pelo Tribunal, e quase 2 anos depois, colocou a culpa no mesmo pelo reajuste abusivo das tarifas.

Essa dobradinha entre Prefeitura e empresas de ônibus não é novidade para nós, que há anos enfrentamos este conluio na cidade. Depois de muitos anos operando sem licitação, desde setembro de 2013 o processo da nova licitação do transporte se arrastava na base do autoritarismo, da falta de diálogo e da arbitrariedade do poder público, que recusou de todo jeito a participação popular.

O nome escolhido pelo consórcio vencedor (e único participante) da licitação pareceu até provocação: Fênix. Formado pelas 5 empresas que controlam o transporte de Florianópolis desde 1926, ano em que os primeiros ônibus começaram a circular pela cidade, a Fênix irá explorar o sistema até 2034, totalizando 108 anos de controle do transporte da cidade! Nas palavras do TCE: “Constatando-se apenas a alteração de razão social e incorporação, com fortes características de grupos familiares e nichos de mercado”.

Desde que o novo consórcio começou a operar, foram feitas muitas promessas para os usuários. Promessas que não foram revertidas em melhorias. Os usuários reclamam da falta de horários, de manutenção dos veículos e, principalmente, do alto valor da tarifa, que não condiz com a qualidade dos serviços prestados.

Além da licitação, que mudou tudo para ficar como está, a Prefeitura também tem planos de construir um Teleférico para “solucionar” os problemas de mobilidade da Capital. Para isto, pretende contrair um empréstimo de cerca de R$ 152 milhões com a Caixa Econômica (recursos do PAC II). A obra tem sido criticada por ser cara e ineficiente, sendo possível ter resultados muito melhores investindo em corredores exclusivos para ônibus e subsidiando a tarifa do transporte coletivo.

Em 2009 Florianópolis foi considerada a cidade com pior mobilidade urbana do Brasil. Nossa cidade tem muitos morros, lagoas e dunas e temos uma ponte como gargalo. Além disso, somos a segunda cidade com o maior número de carros por habitante no Brasil. Com um sistema de transporte público caro e ineficiente como o nosso, a situação só tende a piorar, pois todo trabalhador com condições financeiras irá optar pelo transporte individual.

Precisamos repensar a lógica do transporte público para evitar que este trânsito infernal continue sugando cada vez mais tempo de nossas vidas. O acesso a todo direito essencial da população passa por sua mobilidade. Se a lógica do transporte não é garantir e oferecer a possibilidade de deslocamento para o povo, então são restringidos a esta população o seu direito à educação, habitação, saúde e cultura.

Por estes motivos estamos em luta novamente.

Já realizamos duas manifestações na semana passada, uma na terça (13) e outra na sexta (16). Felizmente até o momento não houve confronto algum com a Polícia.

Nesta sexta, dia 23/01, nos juntaremos a outras cidades do Brasil em um ato unificado pela redução imediata das tarifas, contra a repressão policial e pela implementação do projeto Tarifa Zero.

Resistir até a tarifa cair!

Por uma vida sem catracas!

Frente de Luta pelo Transporte Público – Grande Florianópolis

http:/lataofloripa.libertar.org/

Vídeo de chamada para o Ato Nacional #ContraATarifa do dia 23: